quarta-feira, 18 de junho de 2008

Novas tecnologias e a ética profissional

O jornalismo predominante na atualidade é de cunho informativo, interpretativo e tende a ser o mais imparcial possível. Portanto, os veículos de comunicação geram notícias que contem a informação detalhada e explicada sem acusar ou julgar um pressuposto. No entanto, esta é apenas uma imersão da regra, não sendo o que realmente ocorre no jornalismo brasileiro.
Nos últimos anos, o avanço tecnológico foi tão rápido que o próprio ser humano não pode acompanhar normalmente. A demanda de informação se tornou incontrolável e, para isso foram criadas técnicas e regras para que houvesse uma maneira de se driblar a ansiedade de informação. Não obstante, a comunicação não alcança a cobertura de todos os fatos e por isso não há como interpretar-los em uma notícia como feito anteriormente.
O resultado destes avanços se deu em uma brecha entre o que é compreensível pela sociedade e o que a sociedade se sente obrigada a saber. Não conseguindo mais ver a diferença entre dados e conhecimento, porque a informação não diz o que deveria, o ser humano sofre dos males da ansiedade de informação. Richard Saul Wurman ressalta em seu livro (Ansiedade de Inform@ção – Cultura Editores Associados, capítulo 1, página 41) uma citação importante de Kingsley Widmer: “comunicação demais pode resultar em nenhuma comunicação (...)”.
Essa mudança social levou os jornalistas a quebrarem as regras, antes estabelecidas, para conseguir cada vez mais informação, à medida que o jornalismo atual vai ficando cada vez mais empresarial e priorizando a corrida pelo furo de reportagem. “O exagero começou a nublar as diferenças marcantes entre dados e informação, entre fatos e conhecimento”, diz Wurman a respeito do assunto.
A partir daí, se perdem os valores de ética jornalística para se ter a capa do jornal, para vender mais e para gerar lucros. A comunicação deixa de ser informativa e passa a ser comercial. Isto influência os jornalistas a competirem entre si para poderem sobreviver no seu mercado.
O jornalista esquece que suas funções eram: filtrar boas matérias das ruins, formar o leitor e auxiliar em uma boa interpretação do fato, passando apenas a buscar cada vez mais dados. E a busca de dados se torna cada vez mais perigosa. Uma vez que se junta as novas tecnologias com a falta de ética profissional, o resultado é uma mudança comportamental.
“Nova tecnologia, nova ética: toda vez que a humanidade dá um salto tecnológico, o resultado é um impacto na moral”, Mário Rosa explica em seu livro “A Reputação - na velocidade do pensamento: Imagem e ética na era digital” (Geração Editorial, página 53). Então, as novas tecnologias começam a facilitar o trabalho jornalístico, de forma que há um rompimento com a questão ética.
Não estou dizendo que o profissional deva ser obsoleto e utilizar-se somente de matérias sem tecnologia. Mas sim que existe uma falta de limitação deste uso, hoje em dia. O jornalista não respeita as regras, em sua maioria porque as desconhece ou porque teme perder seu emprego. Podemos ver que o uso de material indevido se torna praticamente obrigatório aos profissionais da área.
O sistema onde o jornalista recebia um dado e checava sua veracidade se tornou decadente em função do jorro de informação diária e da competição para dar mais informação aos leitores. A qualidade passou a ser um fator secundário, e predominou a quantidade. As folhas tentam competir com a internet, a internet compete com a TV, a TV compete com o rádio, o rádio com as folhas e a luta entre eles vai aumentando sucessivamente.
Com isso, ocorrem erros que antigamente eram inadmissíveis como, por exemplo, o ocorrido no dia 20 de maio deste ano: um incêndio em um prédio em São Paulo levou um jornalista do GloboNews a acreditar que um avião da empresa Pantanal havia se chocado com este. Sem checar a veracidade da informação, esse sujeito mandou os dados por celular para a central de redação do canal de noticiários que interrompeu a programação na hora e deu a notícia de supetão. Quando, na verdade, o incêndio teria sido provocado pela explosão de um botijão de gás em uma fábrica de colchões.
Situações como estas se tornaram corriqueiras, assim como falsas denúncias feitas com uso de câmeras escondidas. O programa da Rede Globo, Fantástico é um dos que mais utiliza este método e consequentemente sofre processos judiciais por isso. Existem diversos jeitos de conciliar as tecnologias com os valores éticos do jornalismo. Franklin Martins diz em seu livro, Jornalismo Político (Editora Contexto), que se deve respeitar sempre as fontes e principalmente a sociedade, já que estas são as lealdades de um comunicador.
Se existem princípios é porque eles são necessários para que a sociedade conviva em harmonia. A corrida pelo furo deve ser vista pelo profissional como algo importante, porém não como o principal. A concentração deve se manter na qualidade, na ética e no respeito. Matérias de cunho investigativo ou denunciativo com uso de câmeras escondidas podem ser feitas com auxílio do Ministério Público, sempre dentro da Lei de Imprensa (Lei nº. 5.250/1967).
Comunicadores devem fazer a sua parte e respeitar sempre as suas fontes e o leitor, para que sempre tenha fontes e ganhe o compromisso da sociedade consigo. Afinal, as tecnologias foram introduzidas ao longo dos anos para facilitar nossas vidas e não o contrário. Na minha opinião, vale usar todas elas, desde que sempre se mantenha dentro das regras estipuladas, preservando a integridade e imagem de todos os lados. Matérias aprofundadas, bem feitas e fidedignas atraem o leitor tanto quanto o furo de reportagem, e são maneiras de acabar com os problemas da ansiedade de informação.
Trabalhar os dados, interpreta-los e transforma-los em reportagem, documentário, ou qualquer outra forma de informação, leva a um resultado agradável a todos. Um profissional de verdade segue sempre essa moral e tenta ser o mais ético possível, e tenta estar sempre atualizado perante a sociedade.

Por Deborah Cattani

Conhecendo o sistema

Em busca de terminar com excelência um trabalho para a cadeira de Radiojornalismo I, fizemos um vídeo tour pela CBN/Gaúcha. O resultado, aprovadíssimo pelo professor, foi parar no Youtube, obviamente.



Por Deborah Cattani, Aline Costa e Silva, Mariana Ávila, Bruna Scirea e Gabriela Bonni.

Na trilha da política

Ambrosina Eloá Ferreira Porto abre a porta. Maria Eduarda, sua neta, tem aula de inglês. É cinco e meia, ela começa a falar sem parar. Quem vê nem imagina que essa mulher já viveu mais do que a sua idade permite, e ainda assim acha fôlego para ser mãe, avó e bisavó.
Os cabelos já estão brancos, mas o rosto disfarça sua idade. Eloá, aos 78 anos, tem a mesma aparência que tinha quando moça. O próprio significado de seu nome não poderia ser mais propício a sua alma. “Ambrosina vem de Ambrósia (do grego), que quer dizer divina. Eloá vem do hebraico, e quer dizer deusa”, conta que uma amiga achou os dados na internet. Os olhos azuis brilhantes tagarelam o tempo todo, enquanto as perguntas sobre sua vida a remetem de volta ao passado.
Eloá corre com os irmãos em um campo colorido. As crianças todas sorriem e brincam com os animais. É inverno e faz muito frio. Eloá olha para o céu e sente a brisinha gelada em suas bochechas vermelhas.
Filha de imigrantes nasceu um dia antes da atriz Grace Kelly, 10 de novembro de 1929, em Santo Ângelo das Missões. “Missioneira”, como se autodenomina, teve seis irmãos e uma infância feliz, mesmo com a ausência do pai, que se separou da mãe muito cedo e nunca mais voltou.
A partir dos sete anos, cresceu em Porto Alegre com a mãe, a avó e todos os irmãos. Aos 13 anos, já mostrava sinais da vida que seguiria, começou a se interessar por política sob influências de seu primo Nírio Carreira Machado, deputado federal pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB).
Conheceu Tiradentes através de livros de capas duras e páginas, hoje amareladas pelo tempo. “Ele era o meu herói”, ela fala como se Tiradentes tivesse sido seu primeiro amor. Mais tarde, passou a idolatrar Alberto Pasqualini. “Na porta do meu roupeiro, em vez de fotografias de artistas de cinema e rádio, eu tinha uma foto do Alberto Pasqualini”, confessa entre algumas risadas arrancadas de sua memória. Caminha até o quarto e pára diante do roupeiro de madeira maciça de carvalho e abre a porta. Entre recortes de jornais e fotos de família lá está, bem no meio, uma foto antiga e autografada do ídolo político.
Pasqualini filiou-se ao então Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) quando Eloá entrava no auge de sua adolescência, seus 18 anos. “Na minha época não se dizia, não se ouvia falar na palavra adolescência”, lembra dos tempos em que pôde usar seu primeiro batom.
Diante do espelho Eloá admirava sua intimidade. Tinha um corpo bonito e maduro demais para sua idade, todo roliço. Seus lábios carnudos contrastavam com o nariz avantajado. Era uma mulher dura dentro de uma menina. Passou com os dedos um pouco de carmim nos lábios e levantou os longos cabelos ondulados nas pontas em forma de um rabo e ficou ali por horas fazendo poses diante de si mesma.
“Getúlio Vargas e Alberto Pasqualini foram os maiores políticos do Brasil, em caráter e tudo”, Eloá se emociona ao lembrar-se dos tempos em que a política tinha outro aspecto. De repente, olha para o gravador em cima da mesa lustrosa e diz com veemência: “Eu gosto de política, quem sabe até me arrependa de não ter entrado nela”.
Aos 19 anos, casou-se com Idelfonso Antônio Porto, seu adversário na política, pois fazia parte do Partido Social Democrata (PSD), e adversário no futebol, já que era colorado. Eram adversários até mesmo no futebol do interior gaúcho, Eloá torcia pelo Ypiranga Futebol Clube e Idelfonso, pelo Clube Esportivo e Recreativo Atlântico (CER Atlântico).
O casamento foi em Porto Alegre, no dia 14 de dezembro de 1950, um dia antes de Idelfonso colar o grau. Ele perdeu a formatura da faculdade para casar-se com Eloá. No mesmo dia foram para Erechim, cidade do marido. Por causa da pressa, as fotos do evento se perderam no caminho e Eloá não tem nenhuma lembrança deste além da sua memória.
Idelfonso era tesoureiro da Caixa Econômica Federal e havia tirado diploma em Economia. Eloá engravidou pela primeira vez aos 22 anos. E no dia 7 de setembro de 1954 teve seu segundo filho. Maria Beatriz, sua única menina, nasceu no dia 17 de setembro de 1959.
Aos 33 anos, em 1962, juntamente com o marido, três filhos pequenos e um casal de amigos, fez a viagem de sua vida. Em um Ford Vemagheti de 1923, ela e a família saíram de Erechim por Vacaria, seguidos de Ivete Hilda Pinheiro Garramones, seu marido e seu pai, João Pinheiro, em um fusca. “Não existia estradas, as estradas da época eram tudo de chão batido, mas mesmo assim, nós fomos”, relata absorta nos pensamentos.
O calor das pradarias vinha de encontro ao carro que mal tinha cobertura. As crianças dormiam no banco traseiro. Idelfonso, sério, concentrava-se na estrada. Eloá pensava em tudo, enquanto tentava manter os cabelos presos dentro de um lenço, protegidos do vento. Só a promessa de pisar em Brasília a fazia rir sozinha, era a realização de um sonho.
Em um único dia foram direto à Curitiba, onde pernoitaram. Depois foram a São Paulo. “Fizemos uma viagem muito arriscada”, ela menciona a condição das estradas, que estavam sendo ampliadas naquele ano. “São Paulo me assusta até hoje”, diz dona Eloá, que não gosta da capital paulista por causa do grande número de pessoas circulando nas ruas. Partiram para o Rio de Janeiro, onde ficaram um dia e meio. Ela conta que se emocionou com as praias, principalmente com Copacabana.
Os biquínis eram mais curtos que nas praias do sul. As meninas muito mais bronzeadas. Por um momento Eloá sentiu um frio na barriga, sentiu-se uma estranha naquele lugar, quase uma estrangeira. Mas a sensação durou pouco, logo que pisou na areia com seu traje de banho longo e sentiu os pés cheios de pequenos grãos teve vontade de gritar, mas se conteve. Com as mãos agarradas às de seus filhos, caminhou em direção ao mar.
Depois do Rio, chegaram a Minas Gerais. “Antes de chegarmos a Belo Horizonte, conhecemos a barragem Três Marias que estavam recém terminando”. Ela fala em tom exacerbado, fazendo a barragem surgir em cima da mesa e fluir por entre os candelabros de prata envelhecida. Chegaram à primeira estrada de asfalto. A missioneira exclama: “Maravilha!”. Depois de Barbacena e Belo Horizonte, seguiram para Ouro Preto.
“Todo brasileiro deveria visitar Ouro Preto. Para ser brasileiro tem que conhecer o nosso Brasil”. Mais uma vez acende sua grande paixão por Tiradentes. “Nunca pensei em conhecer o terreno, onde existia a casa dele, que foi salgado para não nascer mais nada, mas tinha uns verdes em cima e me emocionei que chorei. Que nunca na minha vida eu tinha imaginado em conhecer aonde residiu Tiradentes.”
Eles visitaram o museu da Inconfidência que ocupa a antiga Casa de Câmara e Cadeia de Vila Rica ainda na cidade de Ouro Preto. Eloá ficou extasiada com o relógio Ômega prateado de bolso, único pertence achado do Tiradentes e que se encontra lá em exposição.
Conheceram também o sino que bateu, conforme a lenda, no dia 21 de abril 1792 cinco badaladas pela morte de Tiradentes, mesmo proibido de bater para sempre. Voltando a dar o ar de sua graça celestial de novo somente quando Brasília foi inaugurada. Dali foram para Pampulha ainda em Minas Gerais. Irrequieta na cadeira, Eloá se disse insatisfeita. “Eu sou mais do clássico do que do moderno”, pois em Ouro Preto todas as construções feitas têm que respeitar o modelo clássico de 1700.
E cumprindo o destino de sua viagem, um dia depois, pararam o carro em Brasília. Levaram uma semana em estradas com péssimas condições para conhecer a primeira e única superquadra pronta. A emoção se dilata em sua face nesse momento. Eloá nunca foi uma mulher comum.
A primeira a saltar fora do carro, praticamente esquecendo-se da existência dos filhos e do marido, Eloá saiu pela rua a examinar cada detalhe de seu sonho perfeito. Maria Beatriz cochilava na traseira da Vemagheti. Os meninos acordavam lentamente, enquanto Idelfonso acendia um cigarro ainda dentro do veículo.
Eloá visitou o palácio através de seu compadre, Manoel Soares Leães, o Maneco. Conhecia-o por causa da sobrinha dele, também natural de Erechim. Maneco morreu aos 78 anos, no dia 7 de agosto de 2004, e foi piloto do presidente João Goulart. Teve seu depoimento transformado em um livro chamado “Meu amigo Jango: memórias de Manoel Soares Leães” (Sulina, 2004) pelo jornalista Kenny Braga.
“Conheci o palácio, um sonho. Fomos ao cinema do palácio, lindo, todo azul, sentei na cadeira da Maria Tereza [primeira dama]. Chovia muito então não podíamos sair para a rua”. Nesses momentos os olhos de Eloá ficam mais azuis do que nunca. Seu marido chegou a ser convidado duas vezes para trabalhar em Brasília, mas Eloá não deixou. Segundo ela foi uma mistura de medo e nostalgia. “Depois em Brasília não voltei mais”, completa extasiada.
Em 1968, seu filho mais velho, Arnaldo Carlos Porto, veio fazer o Ensino Médio em Porto Alegre e seu marido foi convidado para ser inspetor da Caixa Econômica Federal. Então, mudaram-se todos para a cidade grande. Ela conta que voltou a aceitar Porto Alegre somente em 1974, “quando eu voltava de Erechim, aqui na ponte do Guaíba, (...) e eu vi debaixo da ponte do nosso carro, ali na Avenida Castelo Branco, coisa que eu nunca tinha visto na minha vida. Um casal com duas crianças morando debaixo da ponte. E daí, eu me questionei, eu morava no Brigadeiro Sampaio, um belo apartamento (...), minha vida bem estruturada, meu marido, meus filhos estudando (...), como que uma pessoa vivendo uma vida boa como eu não ia aceitar viver aqui”.
Conheceu Montevidéu em 1973 com a excursão do colégio de Maria Beatriz, que tinha então 14 anos. Eloá sempre cuidou da casa, só parou de cozinhar em 1997 quando teve câncer, mas se operou e se recuperou. E depois voltou com todos os seus afazeres com a ajuda de duas empregadas. Pouco depois ficou viúva.
Seus filhos, Arnaldo Carlos Porto (advogado) e Antônio Augusto Porto (médico), saíram de Porto Alegre e foram viver, respectivamente, em Curitiba e Passo Fundo. E sua filha mais nova, Maria Beatriz, teve um casamento turbulento e foi morar com ela junto de seus dois filhos, Maria Eduarda e Tomaz. Em seguida, no ano 2000, descobriu um tumor maligno e veio a falecer, aos 41 anos, deixando os filhos, Eduarda com cinco anos e Tomaz com 11.
Ainda muito abatida Eloá teve que dar adeus à filha, mas tinha que continuar a ser uma mulher forte. Não podia se entregar. Havia ficado com duas crianças desamparadas para cuidar. Era mãe, mais uma vez na vida.
Até hoje os netos moram com ela, agora com 13 e 19 anos respectivamente. “Hoje eu sou a mãe deles, avó e mãe”, Maria Eduarda assente com a cabeça cada palavra que sai da boca de dona Eloá, enquanto acaricia a mão da avó.
Os três moram em um prédio na esquina da Rua André da Rocha no coração do centro da capital gaúcha. Um apartamento antigo, porém bem cuidado. Como toda casa de avó, é cheio de porta-retratos e fotos de família. Além de móveis antigos que carregam o ambiente e diminuem o espaço.
Livros é o que mais se encontra na sala. Ela possui a coleção intera das obras de Machado de Assis, da enciclopédia Barsa e dos romances de Erico Verissimo, entre outros. Sua casa tem um cheiro encantador, uma mistura de comida caseira com cheiro de infância na fazenda. O barulho da Avenida Senador Salgado Filho parece não incomodar Eloá.
Agora já é quase oito horas da noite. Acabou a aula e Eduarda vai para a sala chamar a avó. Eloá cochila ao som da TV Senado, seu canal favorito. Ela acorda e se desculpa. Caminha até a porta sonolenta, mas sempre falando. Agora fala mal do Lula, presidente do Brasil. Sua indignação com a politicagem nas assembléias brasileiras tem bastante fundamento. Ficamos na porta por mais uns 15 minutos. Entro no elevador e a porta deste se fecha. Ao descer os treze andares ainda ouço a voz de dona Eloá, que nunca se cansa de contar boas histórias.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Palestra sobre Assédio Moral é promovida por delegacia sindical

Durante todo o dia de hoje (16), o Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (UNAFISCO SINDICAL) envolveu-se com a execução do seminário gratuito: “Assédio Moral nas Relações de Trabalho” em sua sede na capital gaúcha. A programação contou com participantes como Roberto Jorge da Silva, Presidente da UNAFISCO; Solange Dantas Ferrari, doutora em Psicologia Clínica; e Viktor Byruchko Junior, Procurador do Ministério Público do Trabalho da 4ª Região.

O evento iniciou-se às 8h30min da manhã com uma mesa de abertura seguida do painel “Assédio Moral como uma Degeneração na Relação de Trabalho e a Busca da Excelência das Relações Humanas”. A doutora Ferrari falou sobre as vítimas em potencial do assédio, por exemplo, mulheres, idosos, homossexuais, portadores de deficiência, pessoas de cor, entre outros. João Renato Alves Pereira, professor do Instituto Superior de Ciências Aplicadas, conceituando o assunto principal disse que se tratava de “toda ação repetitiva ou sistematizada que objetiva afetar a dignidade da pessoa, criar ambiente humilhante, degradante, desestabilizador e hostil”.

Convidados a um debate, os palestrantes esclareceram diversas dúvidas do público alvo, trabalhadores do serviço público. Uma das questões mais freqüente foi sobre a aplicação da justiça àqueles que abusam moralmente. “Assédio não é considerado crime no Brasil, mas aplica-se o texto dos artigos 5º e 7º da constituição, que protegem o direito à intimidade, dignidade, igualdade, honra e vida privada. Outro texto utilizado neste contexto é o 483 da CLT, que considera humilhação do empregado como calúnia e difamação aumentando o risco de indenização por dano material, moral ou à imagem”, esclarece Pereira, que também é o autor do primeiro livro sobre o tema no país.

Após um rápido intervalo, a mesa seguiu com a discussão “Aspectos Jurídicos do Assédio Moral”. Ingrid Graziela Farinelli Ruschel, psicóloga organizacional e advogada, e Liliane Marins, advogada da UNAFISCO abordaram os possíveis direitos da pessoa que é agredida perante as leis brasileiras. Á tarde, o painel “Depoimento e Estudo de Caso” introduziu exemplos de assédio e de indenizações por tal motivo. Edson Araújo, Auditor-Fiscal da Receita, falou sobre momentos em sua carreira profissional onde sofreu pressão de chefes e colegas que o levaram a fazer tratamento psiquiátrico.

O procurador do Ministério Público do Trabalho aproveitou o gancho para apontar algumas conseqüências. O encerramento se deu com um último debate sobre como e onde denunciar. Foi entregue um material indicando que as denuncias podem ser feitas pela internet no site do Ministério Público do Trabalho no link Denuncias.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Exposição “Moderno no Limite” permanece até agosto

A Fundação Iberê Camargo (FIC) instituída em 1995, pelo artista e sua mulher Maria Coussirat Camargo, ganhou nova sede em maio deste ano e já pensa em expandir. A mostra que está em cartaz desde a inauguração do novo museu, 31 de maio, contém 57 pinturas, 21 gravuras e 11 desenhos, organizados de forma não-cronológica, sob a curadoria de Mônica Zielinsky, Paulo Sérgio Duarte e Sônia Saltein. “Moderno no Limite” é uma exposição itinerante que percorrerá todo o Brasil durante o resto do ano, seguindo pelo Museu Oscar Niemeyer, de Curitiba.

O prédio que abriga atualmente as obras começou a ser construído em 2003, na Avenida Padre Cacique, número 2000, pelo arquiteto português Álvaro Siza em parceria com os curadores e com patrocínios de Gerdau, Petrobras, Camargo Correa, RGE, De Lage Landen, Itaú e Vonpar. O projeto foi vencedor do Troféu Leão de Ouro da 8ª Bienal de Arquitetura de Veneza um ano antes de sua construção. Sendo a primeira obra em concreto branco no Brasil, foi orçado em cerca de R$40 milhões. Jorge Gerdau Johannpeter, que acompanhou todo o movimento de perto e foi um grande amigo de Iberê Camargo (1914 - 1994) diz que o prédio é uma obra encadernada pelo verde.

Na nova sede, haverá ampliações na gama de atividades culturais, dando espaço para seminários, exibições de filmes e documentários, cursos e intervenções artísticas. A FIC oferecerá também Programa Educativo, Programa Artista Convidado do Ateliê de Gravura, Bolsa Iberê Camargo e o Projeto de Catalogação da extensa produção do artista. “A construção representa um novo paradigma para as instituições culturais brasileiras, destacando-se por suas inovações tecnológicas”, afirma o vice-presidenta da FIC, Justo Werlang.

Em agosto, inicia-se o Ciclo de Palestras, nove encontros para discutir temas da pintura moderna, expressionismo e contemporaneidade. O evento ocorrerá de 12 a 14 de agosto tendo como palestrantes confirmados: Rodrigo Naves, Maria Helena Bernardes, Glória Ferreira, o alemão Robert Kudielka e, o belga, Thierry de Devu. E a partir de setembro, a mostra “A pintura de Jorge Guinle: Belo Caos” será exposta nos 2º e 3º andares do complexo, com aproximadamente 50 obras sob curadoria de Ronaldo Brito e Vanda Klabin. A programação da fundação vai até fevereiro de 2009.

Dentre as obras expostas, encontram-se as mais famosas como: Carretéis e Maria. O ingresso é gratuito e o estabelecimento funciona de terças a sextas-feiras, das 10h às 19h; sábados, domingos e feriados, das 11h às 19h e quintas-feiras das 10h às 21h. O estacionamento tem capacidade para até cem carros e é isento até 20 minutos. O telefone para contato é (51)3247-8000.

domingo, 8 de junho de 2008

Mudanças são efetuadas no Cristal em virtude do novo shopping

O bairro da Zona Sul da capital está passando por diversas mudanças e reformas fiscalizadas pela Secretaria Municipal de Obras e Viação (SMOV) para se tornar mais acessível. Com as trocas de postes elétricos para alimentação do novo shopping Barra Sul em regiões do bairro, os moradores vêem a possibilidade do bairro se tornar tanto quanto mais seguro do que economicamente valorizado.

Gustavo Cassel, Engenheiro Eletricista do Departamento de Projetos Gerais da Região Metropolitana da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), diz que além da Rua Doutor Campos Velho, ainda sofrerão alterações as redes de distribuição de energia elétrica das Avenidas: Icaraí, Chuí e Diário de Notícias. O investimento gasto nas modificações de alimentação elétrica gira em torno de R$650.000,00 e é propiciado pela diretoria executiva do novo shopping. “A CEEE, cabe apenas a análise das redes elétricas envolvidas”, explica Cassel.

A duplicação da Avenida Diário de Notícias, prevista no Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental e executada pela Secretaria de Planejamento Municipal (SPM), acarretou no deslocamento das redes elétricas existentes nas proximidades para a central de energia elétrica da CEEE da Rua Doutor Campos Velho com a Avenida Cavalhada. Em função disso, está sendo construído um novo alimentador que, segundo Cassel, será do tipo compacto com cabos semi-isolado.

Com o Cirque du Soleil, que estava na capital até a noite de ontem (8), as obras de duplicação da Diário receberam maiores cuidados para evitar o congestionamento na região. O secretário da SMOV, Cássio Trogildo, afirma que a entrega da avenida pronta está prevista para setembro deste ano, junto com a inauguração do Barra Shopping Sul. “Em virtude de fatores imprevisíveis como chuvas, desapropriações, remoções de sub-habitações e o próprio andamento da obra com trânsito no seu interior, poderá haver algum prazo extra, porém acreditamos que seja no máximo até o final do ano”, diz Trogildo em relação aos possíveis contratempos da obra.

Além da infra-estrutura, a SMOV se preocupa também em deixar a área com maior segurança. “Acreditamos que o local terá uma segurança muitas vezes maior do que a que existe hoje, pois terão duas pistas com 10 metros de largura cada, canteiro central com 2 metros de largura, rotatórias para acessos, ampla iluminação pública e sinalização viária novas, nova rede de drenagem, calçada para os pedestres (hoje tem acostamento) e ciclovia”, são as palavras do secretário da SMOV. Para tal, a Multiplan Empreendimentos Imobiliários investirá R$11,5 milhões.

sábado, 7 de junho de 2008

Jazzista faz show gratuito em Porto Alegre

No fim da tarde desta última quarta-feira (4), o pianista e professor americano, Phil DeGreg foi convidado a tocar em show gratuito no Instituto Cultural Norte Americano (ICBNA) acompanhado dos músicos gaúchos Clóvis Boca Freire (contrabaixo) e Julio “Chumbinho” Herrlein (guitarra).

O evento foi uma comemoração dos 70 anos do ICBNA, promovido pelo Consulado Geral dos Estados Unidos de São Paulo e a Associação dos Ex-Alunos Fullbright do Brasil. No Auditório Érico Veríssimo, dentro do Instituto, Degrerg tocou composições famosas de músicos como Gershwin, Cole Porter e Tom Jobim, entre outros.

O pianista natural de Cincinanti toca desde a infância, tendo como primeiras influências no mundo do jazz Bud Powell e Bill Evans. Atualmente, faz improvisações dentro do estilo que vão desde o bepop a Bossa Nova. Por ser um músico versátil, tocou com grandes nomes do meio musical, excursionando por um ano com a orquestra de Woody Herman. Como regente, gravou cerca de dez CD’s e fez participações especiais em diversos outros. Graduado em psicologia pela Yale, DeGreg é professor universitário desde 1987.

Freire é musicista desde 1967, já conquistou os prêmios Açorianos de melhor instrumentista de cordas e melhor instrumentista da Moenda da Canção em 1997. Tem mais de cem discos gravados e tocou com personagems como Cauby Peixoto, Cida Moreyra, Elza Soares, Nei Lisboa e Marcelo Delacroix. Atua nas bandas Arthur de Faria & Seu Conjunto e Quarteto Pictures.

E o gaúcho Herrlein começou sua vida artística aos 11 anos de idade. Trabalha na área de músicas para a publicidade, tendo mais de mil peças compostas e arranjadas que foram ao ar. Ganhou vários prêmios e teve vários discos lançados. Atualmente faz workshops e presta assessoria técnica na área de Infomúsica (informática aplicada à música).

O show dos músicos foi bem recebido pelo público e contou com grande número de estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Phil DeGreg deve tocar hoje às 20h, no Teatro Municipal Paulo Machado de Carvalho de São Caetano do Sul - São Paulo - em show gratuito pela Temporada 2008 de Concertos Internacionais.


Links:
Site do músico Phil Degreg
Arthur de Faria & Seu Conjunto no TramaVirtual
Site do músico Julio Herrlein

terça-feira, 3 de junho de 2008

A morte de um povo


Era índia. Tinha olhos negros e cabelos esvoaçantes. Seios caídos em conseqüência dos filhos que carregou no ventre. Sonhava com campos verdes e a liberdade. Não era escrava, mas estava presa ao seu presente. Presa á uma floresta de pedras.
Usava roupas, pois não conhecia sua natureza indígena. Não falava tupi, nem português. Falava uma mistura de poesia com música. Passava suas tardes tecendo pequenas cestas de vime para vender. Não conhecia o valor capitalista do dinheiro. Tampouco sabia como sobreviver. Era contraditória.
Não tinha anseios, nem esperanças. Nunca conheceu os cerrados de seus sonhos. Apenas ouviu falar deles em sua infância urbana e remota. Cuidava dos três filhos pequenos. Não tinha marido. E sua cama era a sarjeta. Apesar disso, era inocente na essência de seu ser.
O paralelo da Rua Otávio Rocha com as pomposas madames em seus saltos escurecia a inexistência da índia. Todos por ali passavam e nunca percebiam sua arte. Ela era vazia. Misturava-se aos letreiros de lojas e vendedores ambulantes.  Não tinha cultura. Não pertencia a lugar algum. Simplesmente subsistia, aguardando que alguém viesse lhe explicar o que aconteceu com seu povo.
Não possuía vaidades, nem nome. Seus filhos corriam pela rua, famintos e sedentos de respostas. Ela sabia que não chegariam a fase adulta. E se chegassem, seriam fantasmas como ela, assombrando o centro de Porto Alegre. Sendo parte do colorido das ruas. Ou apenas estando ali.
Passaram-se os anos e tudo mudou menos ela. Continuava intacta. Inexata. E agora, sozinha. Abandonada aos próprios erros, sentiu então uma leveza e riu. Riu como se estivesse sentindo a felicidade em seu peito pela primeira vez. Chorou também.
Não entendia o que havia mudado, mas sabia que estava indo para outro lugar. Levantou, viu o céu e as nuvens. Sentiu-se índia pela primeira vez. Seus pés ficaram úmidos na terra do gramado. Agachou-se na beira de um riacho e viu seu rosto de moça. Estava nua como veio ao mundo, com algumas pinturas enfeitando seu corpo moreno.
Pesou nos filhos, na terra, na vida e pela primeira vez entendeu o que era. Sentiu-se livre para ser ela mesma. Viu no horizonte outros como ela, apreciando o pôr-do-sol. Sorriu. Um sorriso sincero. De índia. Afundou os pés na lama e hesitou. A brisa melódica apontou seu caminho. Olhou para traz e agradeceu ao anjo que fazia sinal para que seguisse em frente. Então, correu.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Alegría se despede de Porto Alegre neste domingo

O famoso Cirque du Soleil, que está na capital gaúcha desde 15 de maio, encerra suas apresentações no próximo domingo (8) e parte para Buenos Aires, Argentina. O espetáculo em cartaz, Alegría, foi sucesso de público, tendo seus ingressos da última apresentação esgotados já na metade do mês de maio.

O Cirque du Soleil surgiu em 1984 em comemoração ao 450º aniversário da chegada de Jacques Cartier ao Canadá. Seus criadores e ex-artistas de rua, Guy Laliberté e Daniel Gauthier, visavam inovar os espetáculos circenses. A primeira apresentação ocorreu em Gaspé, em Quebec.

Alegría estreou no aniversário de dez anos do circo em 1994, em Quebec. A produção barroca itinerante já esteve em 65 cidades de 17 países diferentes como Nova Iorque, Londres, Paris, Sydney, Tóquio, Rio de Janeiro, entre outras. Sua temática se baseia em política, reis tiranos e ditadores. Ao todo, mais de 10 milhões de pessoas em todo o mundo já assistiram a essa mostra.

O único brasileiro da trupe, Marcos de Oliveira Casuo, integra o elenco há seis anos, mas está no ramo há mais de 13. Antes trabalhava no Grande Circo Popular do Brasil, do ator Marcos Frota. Após participar de uma seleção no Rio de Janeiro, Casuo entrou para o grupo Soleil como acrobata. Apesar de ter deixado seu país para trás, e adotado o mundo como sua casa, o palhaço faz trabalhos voluntários por todas as comunidades carentes que passa.

Localizado na avenida Diário de Notícias, o espetáculo é uma mistura de música ao vivo, transitando entre o jazz, o pop, o tango e o klezmer, com instrumentos acústicos e de percussão e arte popular teatral. Embalado pelas vozes de Nancy Arnaud e Malika Alaoui, a apresentação de duas horas se divide em nove atos. A música Alergia, escrita por Franco Dragone, Manuel Tadros, Claude Amesse e René Dupere, já se tornou um ícone.