quinta-feira, 30 de outubro de 2008

CEN promove cinema para todos

As primeiras duas semanas de outubro agitaram as ruas da capital gaúcha com o Festival de Cinema de Porto Alegre - CineEsquemaNovo (CEN). Aberto oficialmente pelo Musical Amizade no sábado (11) na sala P. F. Gastal, 3º andar da Usina do Gasômetro, o CEN realizou mostras, shows e entregou prêmios para os filmes inscritos na competição. Uma festa temática lotou o Bar Ocidente, na mesma noite, com título de Pulp Friction, fazendo menção a um clássico das telas cinematográficas.
O festival ocorre todos os anos e conta com a curadoria do professor do curso de Produção Audiovisual na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Gustavo Spolidoro. Durante o evento, o cineasta exibiu dois de seus filmes mais recentes: Ainda Orangotangos, filme que relata uma Porto Alegre atual em um único plano-seqüência experimental e se baseia nos contos do escritor gaúcho Paulo Scott; e De Volta ao Quarto 666, explorando a questão do futuro cinematográfico através dos pensamentos do cineasta Win Wenders, também fascinou os espectadores presentes.
Apesar de o CEN se passar no sul do Brasil, recebe trabalhos de todo o país para a mostra competitiva. Entre as categorias, a mais ansiada foi a mostra Sala de Aula, coletânea de curtas selecionados rigorosamente pela comissão organizadora do festival - de alunos dos cursos de Jornalismo, Produção Audiovisual e Cinema. As exibições desta categoria ocorreram dentro das universidades da capital e da grande Porto Alegre. Os participantes podiam classificar a atuação dos filmes, após assistirem as sessões. Os temas variaram muito, desde filmagens sobre o significado de uma palavra em dialeto indígena até uma entrevista com Álvaro Guimarães, jornalista e diretor de Caveira, My Friend!.
No cinema cofre do Santander Cultural a mostra Vanguardeiros Históricos reavivou três grandes obras do cinema mundial: Um Cão Andaluz (1929) de Luis Buñuel e Salvador Dalí, Entr'acte (1924) de René Clair e Francis Picabia, e Le Ballet Méchanique (1924) de Fernand Léger e Dudley Murphy. Os filmes foram muito bem recebidos pelo público, em sua maioria estudantes de cinema, professores e amantes da sétima arte. "É bom que às vezes alguém de acesso a essas coisas para quem tem interesse", comenta Rafael Brayerd Lima, 17 anos, estudante.
Além das sessões gratuitas de cinema, o CEN possibilitou o acesso para as pessoas com poucas condições financeiras. No dia 16 de outubro, o filme “Povo Lindo, Povo Inteligente” foi exibido no Clube das Mães (Rua Curupaiti, 915) no bairro Cristal, Zona Sul de Porto Alegre. A história se passa em Piraporinha, periferia de São Paulo, onde foi retratado o ambiente multicultural que há seis anos se chamou “Sarau da Cooperifa” (Cooperativa Cultural da Periferia). Em seguida, um debate com o diretor deste, Sérgio Gagliardi, e o escritor, Alessandro Buzo refletiram sobre os rumos da disseminação cultural em comunidades carentes. A atividade foi apoiada pelo Projeto de Descentralização da Cultura da Prefeitura.
Sexta-feira (17) ocorreu o encerramento, seguido da premiação dos filmes destaques. O Fim da Picada, de Christian Saghaard, levou o primeiro lugar entre os longas-metragens pelo júri de premiação. Nos votos do júri popular, o longa mais condecorado foi Pan-Cinema Permanente, de Carlos Nader. Ticiano Monteiro e Guto Parente conquistaram o prêmio de melhor curta com Espuma e Osso, segundo o júri da premiação. A Cozinha Maravilhosa, de Juliano Reina, também ficou em primeiro lugar na categoria curtas, pela decisão do voto popular.


Vídeo do Show do Musical Amizade





Link do site do evento: CineEsquemaNovo

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Estamos todos cegos

Finalmente fui ver o filme do Meirelles. Apesar da crítica brasileira odiar tudo o que agrada o grande público, achei que a parceria Saramago Meirelles caiu muito bem. O filme não precisa ser extremamente fiel ao livro. O livro é interpretado diferentemente por cada um de nós que o lê. O filme é uma visão daquele que o faz. Mas voltando ao assunto, a trama é o que importa. A dramatização, os efeitos, tudo isso apenas contribui para que a mensagem seja mais clara do que aquilo que está embaixo dos nossos narizes: ESTAMOS TODOS CEGOS!
Vi a crítica falar que o ser humano não é capaz de ser tão grotesco como na suposição de Saramago. Onde uma epidemia de cegueira rapidamente se alastra pelo mundo e por medo da contaminação, aqueles que ainda não foram atingidos decidem isolar os doentes. Presos entre 4 paredes e em condições precárias, os cegos se esquecem das noções de ética ensinadas na escola e nas famílias e partem para a guerra pela sobrevivência. As pessoas pensam que somos racionais. Que somos os únicos animais racionais na terra. Se somos animais como podemos ser racionais? O que quer dizer ser racional? Ter a habilidade de criar tecnologia ou matar uns aos outros por ganância?
Quem disse que os macacos não são mais racionais que os seres humanos? Afial, macacos nunca entraram em guerra, nunca atiraram uns nos outros e com toda certeza macacos sabem que precisam da cooperação de um grupo para manter a sobrevivência. Na minha sincera opinião, continuamos em um estado primitivo, em uma cegueira que nos impede de ver o próximo. Nossa única preocupação: nosso umbigo. Criticar o outro é a única solução de não ver os próprios erros. Uns passam horas tentando achar um defeito, em vez de simplesmente tentar absorver o que há de bom em algo ou alguém. Outros, tentam ser heróis, mas nada fazem para mudar o que vivemos. O mundo não está em paz, e com certeza morre mais gente hoje em dia do que na época da inquisição e das lutas medievais. Somos animais selvagens, lutando não por comida, mas por posses. Posses essas que não podem ser levadas conosco. A única coisa que nos pertence e conosco permanece, é o que somos, tudo o que aprendemos e somente isso. Se deixarmos o mundo nos cegar por mera ganância e egoísmo, não nos resta nada se não a guerra.
E guerra, mata.
Deborah Cattani

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Macacos, anarquismo, cinema: Spolidoro é o cineasta do ano

Mal comemorada a estréia de “Ainda Orangotangos” e o lançamento de “De volta ao Quarto 666”, Gustavo Spolidoro já fala sobre seus projetos futuros. Professor do curso de Produção Audiovisual da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e cineasta, Spolidoro pretende realizar dois filmes até o início de 2009. Mesmo com as aulas e as idéias, o cineasta faz parte também do festival Cine Esquema Novo, como curador, e administra o Clube do Silêncio junto de três colegas de profissão: Gilson Vargas, Fabiano de Souza e Milton do Prado.
Nascido no início dos anos 70, em Porto Alegre, e formado em Comunicação Social pela faculdade em que leciona, Gustavo Spolidoro surpreendeu a crítica nos últimos dois anos. Baseando-se em seis contos do livro Ainda Orangotangos (R$23,00) do escritor gaúcho Paulo Scott, o diretor decidiu produzir o primeiro longa-metragem com apenas um plano-de-seqüência, totalmente sem cortes. São 81 minutos de pura adrenalina pelas ruas da capital do Rio Grande do Sul, mostrando a cidade como nenhum filme ousou antes. Estreado dia 22 de setembro do ano passado em uma sessão surpresa no Rio de Janeiro, o longa está rodando o mundo em festivais cinematográficos.
“Quando eu vejo um filme, eu quero que esse filme cause alguma coisa em mim. E quando eu faço um filme eu penso a mesma coisa”, Spolidoro comenta em relação ao sentimento de ansiedade que “Ainda Orangotangos” provoca nos espectadores devido ao seu ritmo exacerbado. “O take único dá essa sensação de não respirar”, ele enfatiza. Além dessa técnica, o filme é feito com a câmera na mão dos cinegrafistas, dispensa tripés, registrando tudo como se fosse o olhar de uma pessoa qualquer; Spolidoro esclarece: “a intenção era que a câmera estivesse dentro da história, que a câmera fosse nós, os espectadores”.
Em cartaz desde o dia 29 de agosto, o filme teve dois meses de ensaios e quatro meses de pré-produção, o que facilitou muito a integração entre os atores. Durante a captação, Spolidoro produziu o making of do longa utilizando uma segunda câmera nos bastidores. Sua esposa, Patrícia Goulart, e sua filha, Aimée Goulart Spolidoro, participaram o tempo todo dos preparativos. O elenco principal é formado por: Karina Kazuê, Lindon Shimizu, Kayode da Silva, Janaína Kremer, Renata de Lélis, Artur Jose Pinto, Nilson Asp, Arlete Cunha, Leticia Bertanga, Roberto Oliveira, Marcelo de Paula, Girley Paes, Heinz Limaverde, Rafael Sieg e Juliana Spolidoro.
A trilha sonora chama atenção com músicas que marcaram época no rock gaúcho, entre elas, o clássico “Amigo Punk”, em versão tango-gaudério, com a participação de Arthur de Faria & Seu Conjunto e Gilson Vargas, nos vocais. “Morte por Tesão”, dos Cascavelletes, remodelada pelos psychobillies da Damn Laser Vampires também marca presença. Ao todo são 16 faixas que compõem a trilha, incluindo o Hino do Sport Club Internacional assobiado pelo ator Nilsson Asp.



O cinema está mais vivo do que nunca
Nas palavras pronunciadas por Win Wenders no curta-metragem, De Volta ao Quarto 666, está a essência da resistência do cinema. Recriando o cenário do documentário Quarto 666, de Wenders, elaborado em Cannes, Spolidoro expõe a criatividade e faz com o cineasta alemão o que este fez com outros cineastas em 1982 na realização de seu filme. Qual o futuro do cinema? A simples pergunta parece não ter resposta. Não se sabe ao certo. Michelangelo Antonioni previu sem querer a era digital ao responder esta questão diante de um filme de 16mm.


Agora é o diretor quem está do outro lado da câmera e tem de filosofar sobre a emblemática. “Não é só o cinema que mente, as janelas também mentem”, o alemão pausado de Wenders invade as telas do computador contundentemente revelando que a manipulação faz parte da vida de todos. Ao contrário dos críticos, Wenders acredita que o cinema ainda pode e vai ser inovador. “Todo mundo é um potencial cineasta hoje em dia”, Spolidoro reforça essa questão. O filme faz parte do Fronteiras do Pensamento da Copesul Brasken, e junto com mais outros quatro curtas, forma a coletânea Ensaios Visuais (Boundaries of Thought: THINK TANK).



Anos 90 e o século XXI, um mix de resultados parecidos
“Eu tenho vários projetos agora. O que está mais próximo se chama Monte Vêneto, e se divide em dois filmes”, Spolidoro fala rápido, empolgado em contar suas novas idéias sobre o possível documentário da cidade de Cotiporã, na serra do Rio Grande do Sul, intitulado A História Inventada. O município, com aproximadamente 4 mil habitantes com forte colonização italiana, foi escolhido por ele devido ao fato de ser a cidade natal de sua avó. O plano do professor e cineasta é seguir cinco adolescentes durante as férias de verão com uma câmera na mão.
“O segundo filme será uma ficção baseada em coisas que aconteceram mais de 15 anos atrás, quando eu estava saindo da adolescência”, segundo Spolidoro, o relato conta a história de seu retorno á cidade, após dois anos de ausência, e o encontro com amigos que passaram por uma mudança radical. Ele explica: “esse amigos estavam muito evoluídos sexualmente, socialmente falando. E buscavam uma liberdade muito grande que uma cidade pequena às vezes não te dá”. Focando em uma faixa etária cheia de polêmicas, o diretor quer reproduzir como ocorriam essas modificações comportamentais.



Entrevista em vídeo

Partes: 1,2 e 3






domingo, 5 de outubro de 2008

The Cult deixa Porto Alegre e segue sua turnê

Numa explosão de uma hora e meia, dentro do Pespy On Stage (Av. Severo Dullius, 1995 – Anchieta), a banda inglesa The Cult deixou o público querendo bis na noite desta última quinta-feira. O show da turnê “Born Into This”, de seu último álbum lançado em 2007, já estava marcado desde o mês anterior e tinha seu primeiro lote de ingressos esgotados. Sem abertura de outra banda e com a casa lotada, The Cult subiu ao palco com alguns minutos de atraso, o que contribui para a ansiedade dos espectadores.

Formado pelo vocalista Ian Astbury em 1984, após largar a banda Southern Death Cult, The Cult se tornou popular após o lançamento do disco Dreamtime em agosto do mesmo ano. Álbum este que se mostrava avançado para sua época, misturando música gótica com progressiva e muito heavy metal. O single Spiritwalker foi seu primeiro hit de sucesso. Agora com apenas dois membros da formação original, Billy Duffy (guitarra solo) e Astbury, a banda conta ainda com John Tempesta (bateria), Chris Wise (baixo) e Mike Dimkich (guitarra).

Ao contrario do esperado, a banda soltou seus acordes mais fortes de guitarra e deixou de lado os clássicos dos anos 80, enfatizando seus discos mais atuais. Duffy foi a estrela da noite, depois de trocar mais de três vezes de guitarra, atingiu seu ponto máximo deixando os fãs boquiabertos. Grande parte da platéia tinha faixa etária acima dos 40 anos sendo fãs de longa data da banda. Há via pessoas de todos os lugares, inclusive do interior para prestigiar o show.

Anderson Rech, estudante de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), atravessou a cidade de ônibus para assistir o único espetáculo em Porto Alegre. “Acho que o show foi muito bom, apesar de que faltaram alguns clássicos e o tempo foi curto”, relata Rech. Os pontos altos da apresentação foram as músicas, Spiritwalker (Dreamtime), I Assassin (Born Into This) e a balada Edie (Ciao Baby) do álbum Sonic Temple. Seguindo a turnê, a banda toca dia 7 de outubro em Curitiba, dia 8 em São Paulo, dia 10 em Brasília e dia 11 em Fortaleza.

Promessas de um novo mundo

Em exibição até o dia de hoje no Santander Cultural, por R$6,00 a inteira e R$3,00 a meia, o filme de Justine Arlin, B.Z. Goldberg e Carlo Bolado relata através de sete crianças o conflito Israel-Palestina. Documentário filmado entre 1997 e 2000, não se preocupa em dar uma aula de história, mas sim em levar à tona o que as crianças de ambos os lados sentem em relação a tudo o que se passa. Os personagens da vida real introduzem o espectador na visão de uma criança e demonstra como esta sabe lidar melhor com os problemas do que um adulto. Árabes e Israelenses, juntos de mãos dadas, as crianças não só chegam a uma conclusão que pode ser a solução do conflito, como também vencem a barreira do preconceito e se tornam amigas de verdade. Em 106 minutos, o jornalista Goldberg joga na cara de quem quiser que a guerra só existe porque ninguém quer pará-la. Tocante e realista o filme deveria ser obrigatório no currículo de todo mundo.

site do filme: http://www.promisesproject.org/

Deborah Cattani