quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Macacos, anarquismo, cinema: Spolidoro é o cineasta do ano

Mal comemorada a estréia de “Ainda Orangotangos” e o lançamento de “De volta ao Quarto 666”, Gustavo Spolidoro já fala sobre seus projetos futuros. Professor do curso de Produção Audiovisual da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e cineasta, Spolidoro pretende realizar dois filmes até o início de 2009. Mesmo com as aulas e as idéias, o cineasta faz parte também do festival Cine Esquema Novo, como curador, e administra o Clube do Silêncio junto de três colegas de profissão: Gilson Vargas, Fabiano de Souza e Milton do Prado.
Nascido no início dos anos 70, em Porto Alegre, e formado em Comunicação Social pela faculdade em que leciona, Gustavo Spolidoro surpreendeu a crítica nos últimos dois anos. Baseando-se em seis contos do livro Ainda Orangotangos (R$23,00) do escritor gaúcho Paulo Scott, o diretor decidiu produzir o primeiro longa-metragem com apenas um plano-de-seqüência, totalmente sem cortes. São 81 minutos de pura adrenalina pelas ruas da capital do Rio Grande do Sul, mostrando a cidade como nenhum filme ousou antes. Estreado dia 22 de setembro do ano passado em uma sessão surpresa no Rio de Janeiro, o longa está rodando o mundo em festivais cinematográficos.
“Quando eu vejo um filme, eu quero que esse filme cause alguma coisa em mim. E quando eu faço um filme eu penso a mesma coisa”, Spolidoro comenta em relação ao sentimento de ansiedade que “Ainda Orangotangos” provoca nos espectadores devido ao seu ritmo exacerbado. “O take único dá essa sensação de não respirar”, ele enfatiza. Além dessa técnica, o filme é feito com a câmera na mão dos cinegrafistas, dispensa tripés, registrando tudo como se fosse o olhar de uma pessoa qualquer; Spolidoro esclarece: “a intenção era que a câmera estivesse dentro da história, que a câmera fosse nós, os espectadores”.
Em cartaz desde o dia 29 de agosto, o filme teve dois meses de ensaios e quatro meses de pré-produção, o que facilitou muito a integração entre os atores. Durante a captação, Spolidoro produziu o making of do longa utilizando uma segunda câmera nos bastidores. Sua esposa, Patrícia Goulart, e sua filha, Aimée Goulart Spolidoro, participaram o tempo todo dos preparativos. O elenco principal é formado por: Karina Kazuê, Lindon Shimizu, Kayode da Silva, Janaína Kremer, Renata de Lélis, Artur Jose Pinto, Nilson Asp, Arlete Cunha, Leticia Bertanga, Roberto Oliveira, Marcelo de Paula, Girley Paes, Heinz Limaverde, Rafael Sieg e Juliana Spolidoro.
A trilha sonora chama atenção com músicas que marcaram época no rock gaúcho, entre elas, o clássico “Amigo Punk”, em versão tango-gaudério, com a participação de Arthur de Faria & Seu Conjunto e Gilson Vargas, nos vocais. “Morte por Tesão”, dos Cascavelletes, remodelada pelos psychobillies da Damn Laser Vampires também marca presença. Ao todo são 16 faixas que compõem a trilha, incluindo o Hino do Sport Club Internacional assobiado pelo ator Nilsson Asp.



O cinema está mais vivo do que nunca
Nas palavras pronunciadas por Win Wenders no curta-metragem, De Volta ao Quarto 666, está a essência da resistência do cinema. Recriando o cenário do documentário Quarto 666, de Wenders, elaborado em Cannes, Spolidoro expõe a criatividade e faz com o cineasta alemão o que este fez com outros cineastas em 1982 na realização de seu filme. Qual o futuro do cinema? A simples pergunta parece não ter resposta. Não se sabe ao certo. Michelangelo Antonioni previu sem querer a era digital ao responder esta questão diante de um filme de 16mm.


Agora é o diretor quem está do outro lado da câmera e tem de filosofar sobre a emblemática. “Não é só o cinema que mente, as janelas também mentem”, o alemão pausado de Wenders invade as telas do computador contundentemente revelando que a manipulação faz parte da vida de todos. Ao contrário dos críticos, Wenders acredita que o cinema ainda pode e vai ser inovador. “Todo mundo é um potencial cineasta hoje em dia”, Spolidoro reforça essa questão. O filme faz parte do Fronteiras do Pensamento da Copesul Brasken, e junto com mais outros quatro curtas, forma a coletânea Ensaios Visuais (Boundaries of Thought: THINK TANK).



Anos 90 e o século XXI, um mix de resultados parecidos
“Eu tenho vários projetos agora. O que está mais próximo se chama Monte Vêneto, e se divide em dois filmes”, Spolidoro fala rápido, empolgado em contar suas novas idéias sobre o possível documentário da cidade de Cotiporã, na serra do Rio Grande do Sul, intitulado A História Inventada. O município, com aproximadamente 4 mil habitantes com forte colonização italiana, foi escolhido por ele devido ao fato de ser a cidade natal de sua avó. O plano do professor e cineasta é seguir cinco adolescentes durante as férias de verão com uma câmera na mão.
“O segundo filme será uma ficção baseada em coisas que aconteceram mais de 15 anos atrás, quando eu estava saindo da adolescência”, segundo Spolidoro, o relato conta a história de seu retorno á cidade, após dois anos de ausência, e o encontro com amigos que passaram por uma mudança radical. Ele explica: “esse amigos estavam muito evoluídos sexualmente, socialmente falando. E buscavam uma liberdade muito grande que uma cidade pequena às vezes não te dá”. Focando em uma faixa etária cheia de polêmicas, o diretor quer reproduzir como ocorriam essas modificações comportamentais.



Entrevista em vídeo

Partes: 1,2 e 3






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