quarta-feira, 23 de julho de 2014

Aprendi

Estou aqui sentada escrevendo de caso pensado, ao contrário que da última vez. Escrevo porque aprendi diversas coisas esta semana e achei estas coisas tão absurdas que preciso por pra fora e compartilhar com vocês. Aliás, esse texto cheio de amor no coração vai causar ódio a grande parte das pessoas, já aviso.



Minha vida passou por um recente reboliço em função deste texto acima. Recebi elogios, ameaças, xingamentos e todo o tipo de reação possível. Não esperava, não esperava nada disso e por diversos momentos cheguei a odiar essa exposição. As palavras que eu vomitei na rede social não foram palavras de ódio e, sim, de um desespero de quem vê vidas humanas sendo massacradas de uma maneira inexplicável e quase inacreditável. Mas eu não vim aqui explicar o que eu sinto sobre o grande conflito no Oriente (nem tão) Médio.

Das coisas que eu aprendi, a mais importante foi que não temos liberdade de expressão. É uma ilusão, uma falácia, dizer que as redes sociais nos permitem atingir o mundo com todo o tipo de opinião. Podemos até atingir, mas temos que nos lembrar que o mundo nos atingirá de volta. Na verdade, ouvi, nos últimos dias, uma infinidade de gente me dizer que eu jamais deveria ter exposto o que eu sentia. Estamos em pleno século XXI, falamos livremente de sexo, de condição social, de política, no entanto, certos assuntos seguem sendo "certos assuntos".

Aprendi que pessoas, que se dizem bem informadas, vieram dolorosamente me criticar, se utilizando de links provenientes de veículos como Veja, Brasil 247 (desconheço) e Wikipedia. Aprendi que nunca tive verdadeiros amigos nos colégios de educação judaica, pois 99% deles acha que o meu texto foi um ataque pessoal aos anos de bullying que sofri na infância e adolescência. Aprendi que meu sentimento é fruto de algum recalque ou trauma que sofri no passado, afinal, nenhuma pessoa em sã consciência diz de verdade o que pensa. Aprendi que a minha página pessoal não é minha, que não posso controlar o que se passa nela, pois cada vírgula descontenta. Aprendi valiosamente que posso mover montanhas com alguns toques de teclado, mesmo que inocentemente.

Aprendi que existe muitos como eu e acho que essa foi uma das melhores coisas que aprendi. Aprendi que qualquer frase negativa contendo qualquer palavra que remeta ao judaísmo é uma tentativa de antissemitismo. Aprendi que as pessoas não sabem escrever antissemitismo, tão pouco a gravidade do significado da palavra. Aprendi que o ódio nasce ao contrário: quanto mais você aponta uma atividade inescrupulosa, mais apontam para você e te chamam de inescrupulosa.

domingo, 6 de julho de 2014

Sobre exoesqueleto, jornalistinhas, progresso e coitadismos

*Antes de criticar a crítica, leia o texto completo :)

Mais um jornalistinha, que jogou anos de estudo e um diploma no lixo, vomitou pela boca. Na ânsia ridícula de escrever um texto romanceado para um jornal, cujo perfil não é este, nem de público, nem de produto, Itamar Melo cometeu um erro comum na imprensa brasileira: a ignorância. Numa tentativa vã de se utilizar de uma história sobre um menino com paralisia cerebral, ele descaracterizou e humilhou o cientista Miguel Nicolelis, criador do primeiro exoesqueleto bem-sucedido do mundo.

Além do texto ser uma merda, literalmente, porque transita entre o tom triunfante de um ex-cadeirante que se auto-superou e o tom jocoso de qualquer cadeirante possa fazê-lo, há uma imensidade de questões opinativas que demonstram a falta de pesquisa na hora de escrever a matéria. Para não ser uma pessoa que só critica pelo bel prazer de falar mal dos outros, eis um exemplo crucial:
A história incrível e emocionante que era esperada em São Paulo, mas não aconteceu, acabou por se desenrolar de surpresa em Porto Alegre, na última segunda-feira, no jogo entre Alemanha e Argélia. Getúlio Felipe Fernandes da Silva, nove anos, perdeu praticamente todos os movimentos do corpo devido à paralisia cerebral que o acometeu horas depois do parto. Aos três anos, não conseguia sequer ficar de pé. Mas entrou no gramado do Beira-Rio caminhando de mãos dadas com seu ídolo, o goleiro alemão Neuer. O menino de Alvorada não chegou lá auxiliado por uma engenhoca com tecnologia de ponta, mas devido a longos anos de árduo esforço. Venceu uma Copa do Mundo particular e comoveu meio mundo.
A engenhoca, a qual se refere Melo, se trata de uma conquista única da comunidade científica. Não só por trazer a possibilidade de movimento para tetraplégicos (que não é o caso do menino Getúlio, basta uma rápida pesquisa no Google para saber a diferença entre tetraplegia e disfunções cognitivas causadas por paralisia cerebral), como também por ser muito mais eficiente que a fisioterapia tradicional. Sem deixar de levar em consideração a história de Nicolelis, né? O cara saiu do país para estudar, décadas atrás, porque aqui não tinha nem bolsas de estudo, nem programas de incentivo na área. Não é a toa que ele promove os governos petistas, afinal, foram os que mais investiram em educação e na captação de corpo científico no Brasil, inclusive a criação do Ciências sem Fronteiras é uma maneira de possibilitar a educação em campi estrangeiros, desde que a criatura volte para atuar em solo nacional.

Mas voltando à bizarrice que vomitou nosso amigo Melo, da Zero Hora. Desde quando que uma pessoa com qualquer tipo de dificuldade motora ou cognitiva precisa se auto-superar? Quem disse isso? Por que essa exaltação de que a pessoa com deficiência precisa se esforçar para parecer normal? Porque este é o tom da matéria, aplaudir o menino Getúlio, que graças a um esforço doloroso, consegue parecer uma criança como as outras e agir como um ser humano qualquer. Qual o fucking problema em ser deficiente? Pensando nisso e digerindo esta informação sem sentido, me vi revendo um vídeo do programa do Huck, transmitido ontem, onde ele pedia (veja bem, PEDIA) para Lais Souza (aquela atleta que fez uma lesão grave nas Olimpíadas de Inverno, na Russia, este ano) mandar uma mensagem de apoio a Neymar, que atualmente sofre de coitadismo.

A nossa imprensa é engraçada, não vê progresso em casos como o exoesqueleto, no entanto se debruça aos pés de um jogador que, na minha opinião, não deu o melhor de si nesta Copa do Mundo. Tudo bem, ele sofreu uma falta e uma lesão mediana, que requer cuidados. Só que as possibilidades dele deixar de andar são nulas, em seis semanas ele volta pro campo. O quão justo é pedir para uma menina jovem que teve a vida interrompida, após perder o movimento do corpo todo, falar para o Neymar que tudo vai ficar bem?


Não sei quem vomita mais bobagens sobre assuntos médicos por aqui, só sei que fico com raiva desses casos. Não, Neymar, não "tamo junto" como a mídia diz, tu vais te recuperar e voltar com o corpo mole pra Seleção, além de estar podre de rico rindo da nossa cara. É uma pena que ninguém tenha se comovido assim por pessoas como a Lais, que além de estar correndo atrás de assistência financeira para sobreviver, afinal foi-se a carreira dela, não vai saber NUNCA mais o que é pisar numa grama molhada, sentir a onda do mar no calcanhar, correr... E não, Melo, não é por falta de esforço dela, é porque não importa o que ela faça, acabou. Pedir para que pessoas como ela sejam fortes e lutem é injusto, tanto quanto exaltar um progresso que é óbvio e humilhar uma ciência para nós desconhecida.

Antes de publicar, senhor jornalista, pesquise, o mínimo que seja. Por mais dramática e romanceada que seja a sua história, se ela for produto jornalístico ainda carecerá de imparcialidade, do desenvolvimento de dois lados.

Deixo aqui um texto do Estadão sobre o Nicolelis, bem rasoável, o vídeo ridículo do Caldeirão do Huck, e um texto FANTÁSTICO sobre essa exaltação com o Neymar.