quinta-feira, 27 de março de 2014

Eu nunca mais liguei o chat

Perdi a vontade de falar com as pessoas.
São sempre os mesmos assuntos, sempre as mesmas pessoas.
Discussões infinitas sobre "política", sexo e a pegada da semana passada.
Até as músicas do momento são artificiais. É tudo tão pré-estabelecido, pré-calculado... Chega a ser plastificado, às vezes. Do que a gente come, ao que a gente fala e sente.
As pessoas na minha volta são todas iguais ou seguem todas os mesmos padrões, têm as mesmas opiniões, mesmos estilos, mesmas vontades.
Todos falam em liberdade. É tanta liberdade que me sufoca.
Se não concordamos, não fazemos parte. É errado questionar, a não ser que se questione a oposição.
A oposição quem é? Os militares, a polícia, os políticos que cortam árvores.
Não podemos falar que não estamos contentes. Não podemos ser diferentes, a não ser que sejamos parte de minorias.
Somos julgados por nossas aparências. Porque sou mulher branca tenho que ostentar uma vida feliz.
Se encontramos algo inédito somos burros, ingênuos ou estamos enfrentando nosso antecessores.
Se defendemos uma ideia que não é a de todos, somos fracassados, somos egoístas.
Falar se resumiu em dizer: "Oi, tudo bem?"
E as respostas são sempre as mesmas, porque é proibido dizer que não está tudo bem. A não ser que seja sobre a política, as obras da Copa ou a economia.
Não podemos mais ser humanos.
E é por isso que eu não ligo mais o chat, é por isso que eu descarto amigos e relacionamentos como se fossem de papel. Porque são de papel. Porque eu não quero mais gastar caracteres para dizer mais do mesmo. Porque eu vou enfrentar, afrontar e crescer se eu falar. E tudo isso é errado e não faz parte deste tempo.

Por isso que eu vou viver no meu silêncio de agora em diante.

Distante.
Obstante.

Amém.