terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Pets na telinha

Mais do que um filme sobre um cachorro indisciplinado, Marley & Eu é o retrato de uma relação sincera entre donos e animais de estimação. Depois de fracassar como repórter, John Grogan acaba se tornando um colunista conhecido por contar as peripécias de seu cão. Após a morte de seu melhor amigo, Marley, Grogan transforma muitos destes artigos em um livro dando origem ao filme. Neste natal, Owen Wilson e Jennifer Aniston trazem direto das páginas para as telas do cinema a aventura que Marley transformou suas vidas. Após emergir nos personagens é inevitável certa identificação, pois quem tem um bichinho em casa sabe que não é fácil, porém é muito prazeroso. Tudo que se escuta no escuro do cinema são as lágrimas dos espectadores que antes mesmo do fim já estão mergulhados no clima todo especial criado por David Frankel, mesmo diretor de O Diabo Veste Prada. Apesar de previsível, o relato real desta família é uma boa dica para quem esta de férias, o labrador que interpreta Marley deu um show e arrancou várias risadas dos que já assistiram o filme.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Twitter


Quem não se lembra daquele tempo em que para falar com alguém que estivesse distante era preciso telefonar para um telefone fixo? Se a pessoa em questão estivesse fora do país, só com carta mesmo! Muita gente hoje não dá bola para isto, mas a comunicação avançou séculos em apenas vinte anos.

Passamos de um processo que levava dias, até mesmo semanas, para um meio virtual, simultâneo e instantâneo. Aconteceu, está na internet. E cada ano que passa, este elemento vai sendo lapidado até se tornar o mais breve e acessível possível. Foi o que aconteceu com o Twitter. Surgiu com a idéia de ser um microblog, na tentativa de superar outras redes sociais já em decadência.

No entanto o propósito do site se desviou e tomou outros rumos. Assim como antigamente era árduo mandar informações de outros países para que os jornais aqui transmitissem ao vivo, hoje graças aos sites como Twitter o jornalismo ficou ágil e superou a barreira do tempo. Não que isso seja um fator positivo. Na verdade, há bens que vem para males. O Twitter pode ter aproximado as pessoas em uma escala que Marshall Mcluhan jamais imaginaria. Porém a rapidez afeta a qualidade.

Essa semana, vi cada coisa no microblog que fiquei estupefata. Mataram Dinho Ouro Preto, e até venderam os ingressos para seu funeral, em um dia de tédio. Sem falar no número incalculável de fofocas e intrigas que o site provoca. Não deveria ter a credibilidade que conquistou em tão pouco tempo. Jornais, canais de televisão, até o presidente dos Estado Unidos estão lá com suas notícias e opiniões.

O Twitter é foco do Observatório da Imprensa, de ombudsmans e outras ouvidorias de grupos de comunicação. Manchetes feitas por estagiários pipocam todo segundo no ar. Cada atualização de página é uma história. Quinze minutos de fama para quê, se podemos contar nossa história em 140 caracteres com direito a links na internet? Toda polêmica boa é digna de um lugar decente nos trending topics da página.

Nada mais importa do que ser o primeiro. Dar o furo. Quem falar primeiro não precisa passar um retwitte. Os atrasados são obsoletos  e ficam no passado. A empolgação com o site foi tanta no início que o Twitter está em primeiro lugar das palavras mais buscadas e faladas do ano, segundo a pesquisa do Global Language Monitor. Depois dessa, vem Obama e H1N1. Tamanha dimensão e nenhuma responsabilidade, nenhum controle, onde será que isso vai parar?

Site brasileiro sobre o Twitter: http://www.twitterbrasil.org/

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Ismail Xavier e as telas brasileiras: um paradigma sobre Glauber Rocha

O que Ismail Xavier vem a chamar de cinema moderno, em seu livro Cinema Brasileiro Mordeno (Editora Paz e Terra, R$10,00), nada mais é do que o estilo surgido nos anos 60 que visava debater aquilo que era nacional-popular. Paralelo ao cinema europeu e latino-americano, o recém nascido cinema brasileiro caminhava na direção da problemática do realismo, da militância política e da questão da identidade. Cinema este que estabeleceu diálogo com a literatura nacional e levou ao público grandes obras como, Os Sertões de Euclides da Cunha que virou tema central do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha.

O Cinema Novo engajou-se na política e foi muito estimulado por movimentos culturais do país e de toda a América Latina. Tornou-se crítico e assimilou o espírito do radicalismo dos anos 60. Segundo Xavier, o modernismo dos anos 20 foi uma das inspirações para tais acontecimentos. Neste momento da história que se criou a matriz decisiva da articulação entre nacionalismo cultural e experimentação estática, fatores absorvidos e retrabalhados pelo Cinema Novo. Alguns filmes de autor resultaram e complexos demasiado exagerados, uma vez que se buscava uma arte pedagógica. Então, o cinema de autor ganhou uma feição particular.

Mas aos poucos surgiram desafios aos cineastas. Foi preciso questionar a burocracia da produção e o mito da técnica em nome da liberdade de criação e na incisão da atualidade. Xavier relata que neste momento da história levantou-se a discussão sobre os imperativos de mercado e os problemas de morte ou continuidade do cinema. A estética da fome visava enfrentar o golpe levando a atualidade, o engajamento ideológico e uma linguagem adequada às condições precárias, capaz de exprimir uma visão crítica da experiência social, às telas brasileiras. Já nos anos 80, houve ou adaptação no modo com o qual se produziam os filmes, resultando em um rompimento com a estética da fome e afirmando a técnica e a mentalidade profissional.

Entre 1969 e 1973, imperou no país o Cinema do Lixo, nomeado de marginal algumas vezes, que se traduz em uma postura agressiva, violenta, mas com humor retratando o momento infernal vivido no país. Este cinema foi alvo da censura, era mais ousado no sexo do que o Cinema Novo, tratava mais especificamente do lazer paulista na baixada Santista. Outro ponto de destaque é que este estilo também era uma forma de recusar a reconciliação com os valores de produção dominantes no mercado.

Mais tarde veio a necessidade de afirmar valores, iluminar experiências históricas, rever o passado e trazer pra dentro do cinema a mulher, o negro, o índio, a comunidade religiosa, o burguês nacionalista, todos os que de alguma maneira eram alvo de problemas sociais. A preocupação passou a ser o cinema da voz do outro, defender a diferença e impor sentido às vivências. Para concluir o livro, o autor faz um ensaio sobre Glauber Rocha, toda sua filmografia e sua importância não só para o cinema, mas também para a história do Brasil.