quarta-feira, 18 de junho de 2008

Novas tecnologias e a ética profissional

O jornalismo predominante na atualidade é de cunho informativo, interpretativo e tende a ser o mais imparcial possível. Portanto, os veículos de comunicação geram notícias que contem a informação detalhada e explicada sem acusar ou julgar um pressuposto. No entanto, esta é apenas uma imersão da regra, não sendo o que realmente ocorre no jornalismo brasileiro.
Nos últimos anos, o avanço tecnológico foi tão rápido que o próprio ser humano não pode acompanhar normalmente. A demanda de informação se tornou incontrolável e, para isso foram criadas técnicas e regras para que houvesse uma maneira de se driblar a ansiedade de informação. Não obstante, a comunicação não alcança a cobertura de todos os fatos e por isso não há como interpretar-los em uma notícia como feito anteriormente.
O resultado destes avanços se deu em uma brecha entre o que é compreensível pela sociedade e o que a sociedade se sente obrigada a saber. Não conseguindo mais ver a diferença entre dados e conhecimento, porque a informação não diz o que deveria, o ser humano sofre dos males da ansiedade de informação. Richard Saul Wurman ressalta em seu livro (Ansiedade de Inform@ção – Cultura Editores Associados, capítulo 1, página 41) uma citação importante de Kingsley Widmer: “comunicação demais pode resultar em nenhuma comunicação (...)”.
Essa mudança social levou os jornalistas a quebrarem as regras, antes estabelecidas, para conseguir cada vez mais informação, à medida que o jornalismo atual vai ficando cada vez mais empresarial e priorizando a corrida pelo furo de reportagem. “O exagero começou a nublar as diferenças marcantes entre dados e informação, entre fatos e conhecimento”, diz Wurman a respeito do assunto.
A partir daí, se perdem os valores de ética jornalística para se ter a capa do jornal, para vender mais e para gerar lucros. A comunicação deixa de ser informativa e passa a ser comercial. Isto influência os jornalistas a competirem entre si para poderem sobreviver no seu mercado.
O jornalista esquece que suas funções eram: filtrar boas matérias das ruins, formar o leitor e auxiliar em uma boa interpretação do fato, passando apenas a buscar cada vez mais dados. E a busca de dados se torna cada vez mais perigosa. Uma vez que se junta as novas tecnologias com a falta de ética profissional, o resultado é uma mudança comportamental.
“Nova tecnologia, nova ética: toda vez que a humanidade dá um salto tecnológico, o resultado é um impacto na moral”, Mário Rosa explica em seu livro “A Reputação - na velocidade do pensamento: Imagem e ética na era digital” (Geração Editorial, página 53). Então, as novas tecnologias começam a facilitar o trabalho jornalístico, de forma que há um rompimento com a questão ética.
Não estou dizendo que o profissional deva ser obsoleto e utilizar-se somente de matérias sem tecnologia. Mas sim que existe uma falta de limitação deste uso, hoje em dia. O jornalista não respeita as regras, em sua maioria porque as desconhece ou porque teme perder seu emprego. Podemos ver que o uso de material indevido se torna praticamente obrigatório aos profissionais da área.
O sistema onde o jornalista recebia um dado e checava sua veracidade se tornou decadente em função do jorro de informação diária e da competição para dar mais informação aos leitores. A qualidade passou a ser um fator secundário, e predominou a quantidade. As folhas tentam competir com a internet, a internet compete com a TV, a TV compete com o rádio, o rádio com as folhas e a luta entre eles vai aumentando sucessivamente.
Com isso, ocorrem erros que antigamente eram inadmissíveis como, por exemplo, o ocorrido no dia 20 de maio deste ano: um incêndio em um prédio em São Paulo levou um jornalista do GloboNews a acreditar que um avião da empresa Pantanal havia se chocado com este. Sem checar a veracidade da informação, esse sujeito mandou os dados por celular para a central de redação do canal de noticiários que interrompeu a programação na hora e deu a notícia de supetão. Quando, na verdade, o incêndio teria sido provocado pela explosão de um botijão de gás em uma fábrica de colchões.
Situações como estas se tornaram corriqueiras, assim como falsas denúncias feitas com uso de câmeras escondidas. O programa da Rede Globo, Fantástico é um dos que mais utiliza este método e consequentemente sofre processos judiciais por isso. Existem diversos jeitos de conciliar as tecnologias com os valores éticos do jornalismo. Franklin Martins diz em seu livro, Jornalismo Político (Editora Contexto), que se deve respeitar sempre as fontes e principalmente a sociedade, já que estas são as lealdades de um comunicador.
Se existem princípios é porque eles são necessários para que a sociedade conviva em harmonia. A corrida pelo furo deve ser vista pelo profissional como algo importante, porém não como o principal. A concentração deve se manter na qualidade, na ética e no respeito. Matérias de cunho investigativo ou denunciativo com uso de câmeras escondidas podem ser feitas com auxílio do Ministério Público, sempre dentro da Lei de Imprensa (Lei nº. 5.250/1967).
Comunicadores devem fazer a sua parte e respeitar sempre as suas fontes e o leitor, para que sempre tenha fontes e ganhe o compromisso da sociedade consigo. Afinal, as tecnologias foram introduzidas ao longo dos anos para facilitar nossas vidas e não o contrário. Na minha opinião, vale usar todas elas, desde que sempre se mantenha dentro das regras estipuladas, preservando a integridade e imagem de todos os lados. Matérias aprofundadas, bem feitas e fidedignas atraem o leitor tanto quanto o furo de reportagem, e são maneiras de acabar com os problemas da ansiedade de informação.
Trabalhar os dados, interpreta-los e transforma-los em reportagem, documentário, ou qualquer outra forma de informação, leva a um resultado agradável a todos. Um profissional de verdade segue sempre essa moral e tenta ser o mais ético possível, e tenta estar sempre atualizado perante a sociedade.

Por Deborah Cattani

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