terça-feira, 27 de julho de 2010

Quem está seguindo quem?

Demorou, mas finalmente apareceu, essa semana, uma organização não-governamental internacional que usa a internet para denunciar atos ilegais de administrações públicas e multinacionais. Wikileaks, uma central de uploads e vizualizações de ombudsmen da vida polítca, é o motivo do alvoroço. O site já entrou até para o currículo de estudos de cursos de comunicação. Segundo o professor de jornalismo da New York University Jay Rosen essa é a primeira agência de notícias sem estado que se tem conhecimento.
A mídia se lavou com as informações oferecidas pela plataforma e aproveitou para fezer notícia sobre um vídeo gravado no Afeganistão e postado no site recentemente. Julian Assange, o pai dessa maravilha, foi às telas nesse mês para tonar seu estudo reconhecido. Ele afirma que o conteúdo é seguro, pois antes da divulgação há um processo de verificação.
Agora é só uma questão de tempo. Ou essa ferramenta causara impacto em muitos lugares do mundo, ou nosso amigo Assange se tornará um inimigo público dos detentores de poder e logo, logo sumirá, levando consigo o que talvez pudesse ter sido um meio de salvação da humanidade.
 
Veja aqui a matéria da CNN.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Mal contados

Não é de hoje que a mídia tem sede de uma boa história policial. Tal sede pode causar até mesmo uma mudança no rumo de investigações. Seguem dois exemplos que tomaram nossa atenção na última semana:

Caso Bruno: culpado ou inocente?
Segundo a imprensa, culpado!

A opinião pública segue o agenda-setting da mídia. Mas os livre-pensadores se questionam.

A outra história é mais recente, o atropelamento do filho da atriz Cissa Guimarães. Porém, a cronologia dos fatos mostra que tem muita coisa mal contada. Como que um carro, naquele estado, seria parado por uma viatura e liberado logo em seguida sem registro de ocorrência?
Além disso, não prestar socorro em um acidente é considerado crime, ou seja, um ótimo motivo para se pedir a prisão preventiva dessa pessoa.
Outra coisa estranha é que nenhum veículo aproveitou o ocorrido para fazer matérias sobre a adolescência, a falta de segurança nas noites brasileiras e o perigo dos rachas (se é que teve mesmo um racha nessa especulação toda).
Nesse momento, a culpa do caso está nas mãos da polícia. No entanto, mesmo que a polícia tenha cometido um erro, não seria esse um bom argumento para se rever o modelo brasileiro?

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Erros da pressa

Olhem quantas vezes a palavra "segundo" se repetiu nesse trecho de texto retirado do G1:

Fonte: http://g1.globo.com/brasil/noticia/2010/07/menor-diz-que-bruno-acompanhou-eliza-para-morte-segundo-delegado.html

Bruno no sítio

Na entrevista concedida nesta manhã, o delegado Edson Moreira disse: "Estavam no sítio do Bruno, em Esmeraldas (MG), quatro pessoas, além de Eliza e a criança. Três pessoas [Macarrão, o adolescente e Bruno] saíram com Eliza e o bebê do sítio sob a alegação de que eles seriam levados para um apartamento alugado. Nesse caminho, certamente o bebê foi levado para outro lugar e Eliza, Bruno, o adolescente e Macarrão foram para a casa do ex-policial. Em seguida, Bruno, Macarrão e o menor voltaram para o sítio apenas com a mala de Eliza, que foi queimada".
O ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, dono da casa em que estaria o corpo de Eliza Samudio, em Vespasiano (MG), seria o responsável pela execução, morte e desaparecimento da jovem, segundo o delegado Moreira. Ainda segundo o delegado, ele teve a prisão temporária solicitada pela polícia.
Segundo o delegado, "Bruno estava lá na casa [do ex-policial] e viu a mulher toda estourada. Acompanhou, segundo testemunhas, Eliza para seu sacrifício, para sua morte". "Um ídolo como o Bruno, de um grande time, e um monstro pelo que fez com essa moça. O crime foi planejado e friamente executado. Podemos concluir que Eliza está morta", diz Moreira.
De acordo com a polícia, Eliza e seu filho, de 4 meses, teriam sido levados do Rio de Janeiro para Belo Horizonte, de carro, com o menor e Macarrão. O carro que levou a jovem foi apreendido em 8 de junho e Eliza foi levada, em 9 de junho, para a casa em Vespasiano (MG), onde teria sido morta. Antes de ser executava, Eliza teria ficado no sítio do goleiro Bruno, em Esmeraldas.
Segundo o delegado Wagner Pinto, Macarrão, Bruno, o menor e Marcos estão diretamente envolvidos na morte de Eliza. "Fazendo o cruzamento das provas objetivas e subjetivas, como os depoimentos, podemos dizer que tudo aponta para a ocorrência de homicídio. O importante para nós é, a partir de agora, juntar todos esses elementos que indicam a efetiva participação do Macarrão, do Bruno e desse adolescente na trama criminosa, juntamente com o policial civil Marcos", diz.
Ele afirma que as buscas pelo corpo de Eliza vão continuar. "Nós temos que buscar o cadáver, mas se não encontrarmos, com todos esses elementos, certamente as pessoas envolvidas serão devidamente indiciadas e apresentadas à Justiça como autoras desse homicídio e pela ocultação do cadáver", diz. Segundo a polícia, as investigações irão apontar outros locais em que, eventualmente, o corpo pode ter sido desovado.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Não se pode confiar na mídia

Essa é a reação de quem lê o livro Deus é inocente, a imprensa não, do jornalista Carlos Dorneles, pela primeira vez. O relatório levantado na obra é um impressionante estudo detalhado sobre a atuação dos meios de comunicação norte-americanos e brasileiros após o atentado às torres gêmeas.

"A imprensa pediu a guerra e foi atendida. Ignorou massacres, desrespeito aos direitos humanos e às liberdades individuais, a destruição de um país miserável pela maior potência militar do planeta e deu vazão ao patriotismo como senha para obediência ao poder”, assim que o autor pauta a obra logo nas primeiras páginas.

Os meios de comunicação fomentaram o ódio, contribuíram para um conflito que perdura há muito tempo, sem solução. As coberturas das grandes televisões se restringiram ao discurso da Casa Branca. Dorneles cita diversos exemplos, entre eles estão os impressos: The Washington Post, The New York Times, Time Magazine e Newsweek; e os canais: CNN, BBC e CNBC.

Na maioria dos casos destacados pelo autor, as fontes são sempre as mesmas: generais americanos, assessorias de imprensa do exército dos Estados Unidos (EUA), porta-vozes, fontes oficiais, etc. Mesmo que sejam seguras, representam apenas um lado da história, manipulando o público. “A imprensa gosta de guerra. Pode parecer exagero, força de expressão, jogo de palavras. Não é. A imprensa gosta de guerra, mesmo de uma como a do Afeganistão: guerra de press-release, de transcrição de informes do Pentágono, de fontes de um lado só”, elucida o trecho da página 27, capítulo Guerra de Redação.

Porém, na visão do jornalista, esse era o objetivo: alienar, confundir e fixar os EUA como um herói. Afinal, por trás da mídia se escondiam poderes maiores com pretextos patriotas e sede de sangue. A imagem do Oriente Médio foi costurada ponto a ponto estrategicamente, como a de um local hostil e cheio de homens-bombas. Até leis foram criadas para facilitar o serviço de espionagem americano que não pegou leve em prender, torturar e humilhar inocentes.

Em nome dessa sede, por um longo período, entre 2001 e 2002, houve um excesso de fatos criados para sustentar pequenas ocasiões, das quais a imprensa não tinha muito conhecimento. No capítulo Antraz, Dorneles traz a tona, talvez o maior exemplo dessa afirmação: “Aos poucos, todos os jornais americanos – e os brasileiros por tabela – foram aderindo à tese antraz-Laden sem qualquer prova.”

O Brasil seguiu nessa hermenêutica, passou a divulgar o conflito com a ótica oficialista do governo norte-americano. Além de publicar informações, recebidas diretamente das agências de notícias internacionais, sem checá-las ou confirmá-las, e tendo freqüentemente suas páginas desmentidas no dia seguinte: "A imprensa brasileira e do mundo ocidental seguiu os passos da norte-americana – foi refém e cúmplice", diz Dorneles.

Durante a obra, o jornalista expressa sua opinião nas entrelinhas, afinal os fatos falam por si. “A imprensa somente revela fatos, não toma partido; não é responsável por acontecimentos, apenas os registra. Esse dogma jornalístico jamais soou tão irreal como depois do 11 de setembro”, finaliza Dorneles na conclusão.

Não obstante de seu pessimismo e de outros exemplos de profissionais da comunicação, como Åsne Seierstad em 101 dias em Bagdá, a imprensa já foi responsável por grandes feitos da humanidade. Seu papel também é social, mas é dever informar primeiro, para depois formar.