segunda-feira, 23 de março de 2015

Drama?

Nos últimos dias eu estou vendo na prática como é ter 20 poucos anos e ser consciente disso. Vou explicar: recebi uma super educação da minha mãezinha. No grito ou não, ela me ensinou a cuidar das minhas coisas, a viver num ambiente limpo, a valorizar as pequenas doações em prol de um cotidiano melhor. Eu cresci levantando cedo todo dia e arrumando minha cama, guardando minha roupa, fazendo meu próprio nescau. O legal de sair de casa é que você percebe o quão único você se torna porque você realmente lava a louça, cozinha, lava roupa, sabe usar material de limpeza e, pior, gosta de viver num ambiente que segue pequenas regras.

Morar com uma galera é engolir toda a sua boa educação em seco, fechar os olhos, respirar fundo e regredir muitos anos da sua vida. Num primeiro momento você tenta estabelecer um raciocínio, tenta mostrar vantagens, mas logo é vencido pelo cansaço e uma pilha de louça que ocupa a pia da cozinha há 3 ou 4 dias. Mesmo tendo um excelente relacionamento com algumas pessoas da casa, você não se sente em casa. E nunca vai! Porque você é o problema. Meu estopim foi hoje, ao ouvir que estou fazendo drama. Claro, a situação se deu por problemas mais graves que uma louça, entretanto, me fez parar para pensar, se eu que sou mimada, ou eles que são relaxados demais.

Como eu disse para um grande amigo meu, o que me deixa mais triste é saber que pessoas que jogam lixo em qualquer lugar, cagam e andam pro meio ambiente, vivem na sujeira e acham limpeza perda de tempo, são o futuro da nossa humanidade. Sim, esses são os jovens de 20 e poucos anos que em breve, muito breve, vão tomar o mundo. Vovó já dizia que a convivência fode as relações, mas pelo que eu estou vivendo, eu posso admitir que para os jovens de hoje, não existem relações, porque é uma idiota como eu fazendo tudo e o resto de boa, achando que o melhor é "ver no que dá".

Acho essa atitude mesquinha e brochante, quase tão péssima quanto a tentativa da Risqué de fazer uma linha de esmaltes femininos agradecendo aos homens pela "ajudinha no cotidiano". Essa publicidade péssima ilustra muito do que eu estou dizendo. Lavar uma louça e fazer um jantar não é um favor e não deve ser agradecido. Limpar, cozinhar, estar presente é fazer parte de relacionamento, seja amizade, seja mais que isso, é se comprometer com os outros, se colocar no lugar deles e, principalmente, não fazer o que você não gosta que façam para você.

Morar em grupo te faz perceber o quanto as pessoas são egoístas e pensam só na sua situação. Quando some algo delas é que elas abrem a boca e reclamam, é quando elas querem impor regras. Quando você reclama de papel no vaso sanitário ou cabelo no ralo você é fresca. Quando desaparece algo do bem comum, as pessoas dão de ombros, acham soluções temporárias (lê-se: gambiarras) e seguem suas vidas. Quando alguém tem que ligar para algum serviço (água, luz, gás, assistências técnicas no geral) é aquela lamentação com lamúria do "pra quê se está bom assim?". Dá uma depressão ver gente que não consegue ter um mínimo senso de autoliderança querendo dominar o mundo.

Como lidar? Não sei, minha válvula de escape tem sido rir disso tudo, lavar mais louças e seguir a vida. Também preciso eu aprender a relevar um pouco mais. A única coisa que me preocupa é me tornar uma dessas pessoas, jamais.

sexta-feira, 20 de março de 2015

HAHAHA só que não!

Passei rindo, nos últimos dias, da ignorância que marchou às ruas do Brasil. Mas hoje, parando para pensar com mais clareza, eu percebi que a gente não deveria mesmo rir e desmoralizar quem protesta sem saber o motivo, o tom e a que lado pertence. Por pior que sejam as pérolas, esse desconhecimento generalizado, tanto da história brasileira, como da constituição, não deveria ser motivo de riso e essas pessoas não deveriam ser ridicularizadas. 

Ao rir desses indivíduos, nos tornamos tão ignorantes quanto, pois nos rebaixamos a um nível em que não somos mais capazes de entregar conhecimento e, na nossa, arrogância, nos convencemos que somente nós podemos governar a todos. Grande mentira, não só porque não está ao nosso alcance, como também não é e nunca será nosso direito. Vindo de um sistema democrático, devemos sempre, em qualquer ocasião, respeitar a opinião alheia, mesmo que ela choque, mesmo que ela coloque o dedo na ferida, isso é liberdade de expressão. Sim, existe uma linha tênue entre ela e o preconceito, entre ela e a calúnia. Mas dissecando as manifestações, ao rirmos dos ignorantes de classe média alta que, com seu conhecimento de escola particular, não conseguiram demonstrar um mínimo discernimento dos fatos, nós endorsamos um péssimo discurso e aumentos o conflito entre "direita" e "esquerda", "norte" e "sul", 99% e 1%. 

Esse gap já é gigante e debochar dos outros só faz aumentar. Por que não tomar uma posição de, ao invés de ridicularizar, educar, explicar, mostrar, sem deboche, que existe uma história, uma série de leis, um sistema a ser seguido? Por que não utilizar isso para repensar a educação brasileira? O que mais me deixou pasma nesses protestos foi exatamente isso, o nível do nosso ensino escolar. Gente, até a Globo, que manipula em favor da direita há anos, já fez uma série de filmes detonando a ditadura militar (entre eles cito Batismo de Sangue e O Ano em que meus Pais Saíram de Férias, que são bem fortes). A internet está aí também, com uma série de materiais sobre o quão duro foi aquele período. E não é só isso, fico perplexa com a falta de conhecimento sobre a economia mundial. As pessoas pedindo irracionalmente para a Dilma baixar o preço do dólar. 

Precisamos voltar àquele tempo em que se ensinava na segunda série a preencher cheques, porque educação monetária e econômica era importante. Hoje as crianças saem do ensino fundamental sem nem saber ler, pois nessa adoção do 9º ano permitimos que o ensino decaísse, valorizamos demais a meritocracia e a decoreba pra passar no vestibular. É isso que dá, formamos indivíduos que conseguem fazer uma prova com 90 questões interpretativas em 5h, mas que não conseguem processar as informações, discuti-las e formar opinião própria embasada sobre qualquer assunto. Parem e pensem, não é questão de ensinar a constituição nas escolas, como quer o Romário, mas de mostrar que ela existe, que ela contém nossos direitos e DEVERES como cidadãos e que elas está disponível para nós em múltiplas plataformas. 

Não é exigir que uma criança saia da primeira série lendo e fazendo cálculos, é mostrar pra essa criança, desde cedo, a vantagem de saber ler, de saber interpretar e opinar criticamente. É incentivar as pessoas a irem além das suas capacidades e, não, aceitar simplesmente que se passem todos de ano sem saber os conteúdos básicos para sobreviver, por simples pena da autoestima da criança. Não é rodar também, é ensinar de verdade, ao ponto que não se precise rodar, que não se precise decorar pra passar no vestibular, e, mais ainda, que não se precise ouvir tanta asneira nas ruas em tempos atuais.

sexta-feira, 6 de março de 2015

Geração mind the gap

Smile Back At You by Mind the Gap on Grooveshark
Nasci em 1989, um pouco antes da queda do muro de Berlim. No Brasil, primeiras eleições diretas desde os anos 60. Minha geração é a geração do gap, ou seja, a que mais sofreu mudanças de contexto ao longo do tempo, na minha opinião. Crescemos a última infância na rua, dentro das cidades. Assistimos praias quase desertas serem transformadas em centros urbanos de costas para o mar. Somos filhos da democracia, vivemos mais tempo em sistemas políticos de esquerda do que os nossos pais, no entanto, a maioria de nós é de direita.

Nós encerramos a era dos analógicos. Fomos os últimos a usar celular sem internet, a ter fotos impressas e conhecer o processo de impressão proveniente do filme. Quem nasceu em 1989, tem um gap nos álbuns de fotos, aliás. Provavelmente os seus vão até 2002, depois tudo se tornou digital. Muitos de nós não têm registros da transição, afinal o filme acabou antes que se tivesse dinheiro para comprar máquinas tecnológicas, ou ter computador.

Fomos nós que tivemos que aprender como se vive fora de regimes e ensinamos nossos pais a votar, a agir politicamente. Nós, intermediários de um mundo de papel e algoritmos, que demos início a revolução digital. Nós mudamos o ensino, agora é proibido bater e apanhar. Tudo é no diálogo, mesmo que seja on-line.

Nossa geração é a primeira a debater abertamente o aborto, a legalização das drogas, a pena de morte. Nossa geração não tem medo da fome, nem de bala perdida, convive demais com a violência. Queremos todos mudar o mundo, mas não sabemos nem mudar nós mesmos. Somos pouco gananciosos, queremos que o mundo nos tome e não que nós tenhamos de tomá-lo.

Somos filhos de pais separados. Reinstauramos o amor livre, não queremos compromisso, mas amamos tudo e todos. Somos todos indignados, mas não aguentamos um debate com mais de 30 minutos.

Tivemos de aprender a ler de novo na fase adulta. A ler fragmentado, a escrever com apenas 140 caracteres. Mudamos a forma de se comunicar e perdemos o controle disso para as gerações milenares.

Somos frustrados porque nascemos na época errada. Invejamos os anos 80. Somos nostálgicos do que nem se quer vivemos.

Esquecemos como era legal escrever uma carta em um papel colorido, como jogar cartas fazia o tempo passar mais rápido que o Facebook e que, quando faltava luz, a gente se divertia e não se entediava. Viemos do tempo em que o tédio não era uma preocupação real.

Os nossos problemas não foram curados com remédios, mas com educação, em uma época em que pais e escolas se uniam em prol dos nossos futuros. O nosso mundo foi menos competitivo, os que vem atrás precisam se esforçar cada vez mais para tudo. Nós ainda somos perdoados, afinal estamos no gap.