segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Simbologia em espiral

A espiral não é apenas um método matemático para representar números primos. Na verdade, são várias as teorias que circulam por aí, cuja espiral é uma representação gráfica. Baseado nessas hipóteses Junji Ito, um dos mais conhecidos autores japoneses de mangás seinen (terror), criou Uzumaki.  A história mistura teoria do caos, espiral do silêncio e muita imaginação num tradicional conto de terror oriental.
É preciso abrir um parêntese aqui, a diferença entre o horror ocidental e o japonês é fundamental para se entender a trama. No ocidentalismo existe a necessidade de uma explicação, uma lógica para o que está acontecendo, diferentemente da arte sobrenatural oriental onde a teatralidade permanece, a busca é pelo surrealismo inexplicável. Tanto que nesta cultura os monstros não têm um padrão, se desenvolvem conforme os fatos. E, ás vezes, nem mesmo existem.
É essa complexidade que Uzumaki traz para falar sobre uma cidade amaldiçoada pela ignorância e o silêncio. Há uma moral no mangá, mesmo que sua lógica seja confusa. Sua missão é falar dos vícios e medos da sociedade. Kirie Goshima é uma colegial normal que vive na costa do Japão, em Kurozu-cho. Shuichi Saito, namorado de Kirie, começa a sentir que coisas estranhas estão por vir. Então, como uma onda que molha a praia, a espiral engole a pequena cidade. Mudanças repentinas, porém fundamentadas, começam a abalar os céticos moradores de Hurozu-cho.
É quase um Ensaio Sobre a Cegueira, com mais viagens e menos realista. Em parte pelo tempo, que transcorre muito rápido. E também porque se dedica em deixar as respostas nas entrelinhas. Confesso que demorei a captar certas coisas, como a dependência que criamos em torno de um lugar, enfatizada por Ito.
Não é um mangá extenso, são apenas três volumes que se dividem em 20 capítulos. A narrativa é viciante e dá gosto, principalmente para os fãs do gênero. O final pode ser um pouco decepcionante, pois não desenvolve  a causa da maldição. Lançado em 1998, seu sucesso foi tão imediato que ganhou uma versão em filme dirigida por Higuchinsky e estreada dois anos mais tarde. No Brasil, a publicação foi realizada pela Conrad em 2007.



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