quarta-feira, 3 de junho de 2009

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Texto escrito a partir das frases em negrito...


Ele chegou à porta, ligou a lanterna e deu um suspiro. Mais uma vez esquecera da conta de luz. Não era de hoje que ela vinha lhe infernizando a vida com suas loucuras literárias. Para sossegá-la, prometeu compra-la um Cervantes de capa dourada e pagar a conta vencida. Enquanto isso, ela observava os livros diante de uma vitrine iluminada. Cedo ela teve uma intuição: se comprasse o James Joyce, jamais ganharia o Cervantes. E deveria poupar o dinheiro, pois sabia que ele não poderia pagar os débitos com a companhia elétrica naquele mês.

Acabou desistindo do Joyce. Sabia que era muito cedo para começar a ler sobre outros assuntos. Saiu andando ladeira acima. Logo na primeira esquina encontrou um cachorro, um labrador surrado, magro e sarnento. Quis levá-lo consigo, mas refutou a idéia. O cão revelou-se indigno de sua raça. Chegou em casa, acendeu velas, colocou as pantufas, beijou o marido na face amornada e fez o jantar. Os dois dormiram antes do horário. Acabaram a noite sem mais surpresas.

No dia seguinte, ele amanheceu febril. Ela estava desde cedo colada ao rádio ouvindo atentamente sobre a morte da princesa inglesa. Ela foi trabalhar e pagar a luz, ele voltou a dormir. A TV, na sala deserta e escura, transmitia para as moscas da princesa; ele, entretanto, apenas agonizava. Mais tarde, quando ela retornou, ele estava mais disposto. Ficaram juntos debaixo dos cobertores como não faziam há muito tempo. O Governador, nesse dia, baixou um decreto instituindo uma nova condecoração. Para eles não fez diferença, eram, mais uma vez, um casal de namorados.

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