terça-feira, 2 de junho de 2009

Cresce o número de intolerantes à lactose

Pouco discutida, a inabilidade de produzir enzimas para quebrar o açúcar do leite é um dos distúrbios que afeta pelo menos cinqüenta por cento da população mundial, segundo organizações de saúde como o International Foundation for Functional Gastrointestinal Disorders (Fundação Internacional de Distúrbios Gastrointestinais).
Na realidade, o homem foi originalmente preparado para alimentar-se com leite apenas nos primeiros anos de vida, por isso a diminuição da produção da enzima lactase é comum conforme a pessoa se desenvolve. Mas com a domesticação do gado e o crescimento da indústria, o ser humano sofreu uma mutação genética para que o corpo se adaptasse àquela nova realidade. Hoje, a doença pode ser tanto adquirida como nata e seus sintomas são variados e prejudiciais, podendo causar doenças como perda de peso excessivo, anorexia nervosa, depressão, tumores gastrointestinais e até mesmo a morte.

A doutora Themis Reverbel da Silveira, Coordenadora do Laboratório Experimental de Gastroenterologia e Hepatologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), alerta para a importância de um rápido diagnóstico e controle da doença: “a pessoa que tem fortes prisões de ventre, cólicas, gases, refluxo, diarréia repetidamente deve procurar um gastroenterologista”. O tratamento consta da ingestão de enzimas produzidas em laboratório e dieta.

Mas nem tudo é tão simples, no país existem poucos produtos disponíveis no mercado, com enzimas ou totalmente livres de lactose. Até mesmo medicamentos, tais como pílulas contraceptivas, não podem ser fabricados sem lactose. “Nos Estados Unidos as enzimas são vendidas nos supermercados, existem produtos específicos e os cardápios dos restaurantes mostram o que há em cada prato”, conta Suzana Rossi, 54 anos, cirurgiã-dentista, que é intolerante a lactose há um ano. Em Porto Alegre, alguns restaurantes já adotaram a prática, o Substância é um dos que oferece diversos pratos, incluindo doces, sem adição de leite ou derivados. E sites a exemplo do Sem Lactose, contendo receitas e dicas culinárias, circulam na internet.

O diagnóstico também era muito complexo, principalmente para as crianças. O principal exame usado até o meio de 2008 era o teste de tolerância, onde o paciente ingere em jejum um líquido com dose concentrada de lactose e durante duas horas obtêm-se várias amostras de sangue para medir o nível de glicose, que reflete a digestão do açúcar do leite. Agora o HCPA é o segundo centro brasileiro a oferecer a Análise Molecular de Hipolactasia Primária, um teste genético para descobrir a deficiência.

“Este exame é realizado por meio de uma coleta de sangue para análise de DNA, onde se verifica se o indivíduo possui ou não uma mutação no gene LCT, responsável pela síntese da enzima lactase-florizina hidrolase (enzima lactase)”, explica a professora Themis que teve um artigo publicado sobre assunto. O teste molecular é rápido e não necessita jejum, nem causa o desconforto da ingestão de uma sobrecarga de lactose, e o resultado sai em até 7 dias úteis. São dois os possíveis genótipos: CC - não-persistência da enzima lactase (intolerante à lactose); e CT ou TT - persistência da enzima lactase (tolerante à lactose). O exame ainda não é coberto por convênios de saúde e o valor é R$ 120,00 (custo de pesquisa) sendo realizado somente com solicitação médica.

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