Essa é a reação de quem lê o livro Deus é inocente, a imprensa não, do jornalista Carlos Dorneles, pela primeira vez. O relatório levantado na obra é um impressionante estudo detalhado sobre a atuação dos meios de comunicação norte-americanos e brasileiros após o atentado às torres gêmeas.
"A imprensa pediu a guerra e foi atendida. Ignorou massacres, desrespeito aos direitos humanos e às liberdades individuais, a destruição de um país miserável pela maior potência militar do planeta e deu vazão ao patriotismo como senha para obediência ao poder”, assim que o autor pauta a obra logo nas primeiras páginas.
Os meios de comunicação fomentaram o ódio, contribuíram para um conflito que perdura há muito tempo, sem solução. As coberturas das grandes televisões se restringiram ao discurso da Casa Branca. Dorneles cita diversos exemplos, entre eles estão os impressos: The Washington Post, The New York Times, Time Magazine e Newsweek; e os canais: CNN, BBC e CNBC.
Na maioria dos casos destacados pelo autor, as fontes são sempre as mesmas: generais americanos, assessorias de imprensa do exército dos Estados Unidos (EUA), porta-vozes, fontes oficiais, etc. Mesmo que sejam seguras, representam apenas um lado da história, manipulando o público. “A imprensa gosta de guerra. Pode parecer exagero, força de expressão, jogo de palavras. Não é. A imprensa gosta de guerra, mesmo de uma como a do Afeganistão: guerra de press-release, de transcrição de informes do Pentágono, de fontes de um lado só”, elucida o trecho da página 27, capítulo Guerra de Redação.
Porém, na visão do jornalista, esse era o objetivo: alienar, confundir e fixar os EUA como um herói. Afinal, por trás da mídia se escondiam poderes maiores com pretextos patriotas e sede de sangue. A imagem do Oriente Médio foi costurada ponto a ponto estrategicamente, como a de um local hostil e cheio de homens-bombas. Até leis foram criadas para facilitar o serviço de espionagem americano que não pegou leve em prender, torturar e humilhar inocentes.
Em nome dessa sede, por um longo período, entre 2001 e 2002, houve um excesso de fatos criados para sustentar pequenas ocasiões, das quais a imprensa não tinha muito conhecimento. No capítulo Antraz, Dorneles traz a tona, talvez o maior exemplo dessa afirmação: “Aos poucos, todos os jornais americanos – e os brasileiros por tabela – foram aderindo à tese antraz-Laden sem qualquer prova.”
O Brasil seguiu nessa hermenêutica, passou a divulgar o conflito com a ótica oficialista do governo norte-americano. Além de publicar informações, recebidas diretamente das agências de notícias internacionais, sem checá-las ou confirmá-las, e tendo freqüentemente suas páginas desmentidas no dia seguinte: "A imprensa brasileira e do mundo ocidental seguiu os passos da norte-americana – foi refém e cúmplice", diz Dorneles.
Durante a obra, o jornalista expressa sua opinião nas entrelinhas, afinal os fatos falam por si. “A imprensa somente revela fatos, não toma partido; não é responsável por acontecimentos, apenas os registra. Esse dogma jornalístico jamais soou tão irreal como depois do 11 de setembro”, finaliza Dorneles na conclusão.
Não obstante de seu pessimismo e de outros exemplos de profissionais da comunicação, como Åsne Seierstad em 101 dias em Bagdá, a imprensa já foi responsável por grandes feitos da humanidade. Seu papel também é social, mas é dever informar primeiro, para depois formar.
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