Passei rindo, nos últimos dias, da ignorância que marchou às ruas do Brasil. Mas hoje, parando para pensar com mais clareza, eu percebi que a gente não deveria mesmo rir e desmoralizar quem protesta sem saber o motivo, o tom e a que lado pertence. Por pior que sejam as pérolas, esse desconhecimento generalizado, tanto da história brasileira, como da constituição, não deveria ser motivo de riso e essas pessoas não deveriam ser ridicularizadas.
Ao rir desses indivíduos, nos tornamos tão ignorantes quanto, pois nos rebaixamos a um nível em que não somos mais capazes de entregar conhecimento e, na nossa, arrogância, nos convencemos que somente nós podemos governar a todos. Grande mentira, não só porque não está ao nosso alcance, como também não é e nunca será nosso direito. Vindo de um sistema democrático, devemos sempre, em qualquer ocasião, respeitar a opinião alheia, mesmo que ela choque, mesmo que ela coloque o dedo na ferida, isso é liberdade de expressão. Sim, existe uma linha tênue entre ela e o preconceito, entre ela e a calúnia. Mas dissecando as manifestações, ao rirmos dos ignorantes de classe média alta que, com seu conhecimento de escola particular, não conseguiram demonstrar um mínimo discernimento dos fatos, nós endorsamos um péssimo discurso e aumentos o conflito entre "direita" e "esquerda", "norte" e "sul", 99% e 1%.
Esse gap já é gigante e debochar dos outros só faz aumentar. Por que não tomar uma posição de, ao invés de ridicularizar, educar, explicar, mostrar, sem deboche, que existe uma história, uma série de leis, um sistema a ser seguido? Por que não utilizar isso para repensar a educação brasileira? O que mais me deixou pasma nesses protestos foi exatamente isso, o nível do nosso ensino escolar. Gente, até a Globo, que manipula em favor da direita há anos, já fez uma série de filmes detonando a ditadura militar (entre eles cito Batismo de Sangue e O Ano em que meus Pais Saíram de Férias, que são bem fortes). A internet está aí também, com uma série de materiais sobre o quão duro foi aquele período. E não é só isso, fico perplexa com a falta de conhecimento sobre a economia mundial. As pessoas pedindo irracionalmente para a Dilma baixar o preço do dólar.
Precisamos voltar àquele tempo em que se ensinava na segunda série a preencher cheques, porque educação monetária e econômica era importante. Hoje as crianças saem do ensino fundamental sem nem saber ler, pois nessa adoção do 9º ano permitimos que o ensino decaísse, valorizamos demais a meritocracia e a decoreba pra passar no vestibular. É isso que dá, formamos indivíduos que conseguem fazer uma prova com 90 questões interpretativas em 5h, mas que não conseguem processar as informações, discuti-las e formar opinião própria embasada sobre qualquer assunto. Parem e pensem, não é questão de ensinar a constituição nas escolas, como quer o Romário, mas de mostrar que ela existe, que ela contém nossos direitos e DEVERES como cidadãos e que elas está disponível para nós em múltiplas plataformas.
Não é exigir que uma criança saia da primeira série lendo e fazendo cálculos, é mostrar pra essa criança, desde cedo, a vantagem de saber ler, de saber interpretar e opinar criticamente. É incentivar as pessoas a irem além das suas capacidades e, não, aceitar simplesmente que se passem todos de ano sem saber os conteúdos básicos para sobreviver, por simples pena da autoestima da criança. Não é rodar também, é ensinar de verdade, ao ponto que não se precise rodar, que não se precise decorar pra passar no vestibular, e, mais ainda, que não se precise ouvir tanta asneira nas ruas em tempos atuais.
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