sexta-feira, 6 de março de 2015

Geração mind the gap

Smile Back At You by Mind the Gap on Grooveshark
Nasci em 1989, um pouco antes da queda do muro de Berlim. No Brasil, primeiras eleições diretas desde os anos 60. Minha geração é a geração do gap, ou seja, a que mais sofreu mudanças de contexto ao longo do tempo, na minha opinião. Crescemos a última infância na rua, dentro das cidades. Assistimos praias quase desertas serem transformadas em centros urbanos de costas para o mar. Somos filhos da democracia, vivemos mais tempo em sistemas políticos de esquerda do que os nossos pais, no entanto, a maioria de nós é de direita.

Nós encerramos a era dos analógicos. Fomos os últimos a usar celular sem internet, a ter fotos impressas e conhecer o processo de impressão proveniente do filme. Quem nasceu em 1989, tem um gap nos álbuns de fotos, aliás. Provavelmente os seus vão até 2002, depois tudo se tornou digital. Muitos de nós não têm registros da transição, afinal o filme acabou antes que se tivesse dinheiro para comprar máquinas tecnológicas, ou ter computador.

Fomos nós que tivemos que aprender como se vive fora de regimes e ensinamos nossos pais a votar, a agir politicamente. Nós, intermediários de um mundo de papel e algoritmos, que demos início a revolução digital. Nós mudamos o ensino, agora é proibido bater e apanhar. Tudo é no diálogo, mesmo que seja on-line.

Nossa geração é a primeira a debater abertamente o aborto, a legalização das drogas, a pena de morte. Nossa geração não tem medo da fome, nem de bala perdida, convive demais com a violência. Queremos todos mudar o mundo, mas não sabemos nem mudar nós mesmos. Somos pouco gananciosos, queremos que o mundo nos tome e não que nós tenhamos de tomá-lo.

Somos filhos de pais separados. Reinstauramos o amor livre, não queremos compromisso, mas amamos tudo e todos. Somos todos indignados, mas não aguentamos um debate com mais de 30 minutos.

Tivemos de aprender a ler de novo na fase adulta. A ler fragmentado, a escrever com apenas 140 caracteres. Mudamos a forma de se comunicar e perdemos o controle disso para as gerações milenares.

Somos frustrados porque nascemos na época errada. Invejamos os anos 80. Somos nostálgicos do que nem se quer vivemos.

Esquecemos como era legal escrever uma carta em um papel colorido, como jogar cartas fazia o tempo passar mais rápido que o Facebook e que, quando faltava luz, a gente se divertia e não se entediava. Viemos do tempo em que o tédio não era uma preocupação real.

Os nossos problemas não foram curados com remédios, mas com educação, em uma época em que pais e escolas se uniam em prol dos nossos futuros. O nosso mundo foi menos competitivo, os que vem atrás precisam se esforçar cada vez mais para tudo. Nós ainda somos perdoados, afinal estamos no gap.


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