Nas linhas empoeiradas da obra de Mario Vargas Llosa mora um modesto policial. Lituma não tem sobrenome, é um mero guarda civil ansioso para desvendar o caso que dá nome ao livro: Quem Matou Palomino Moleiro? (Francisco Alves, 169 páginas, R$28,00). Sua história começa em uma noite quente de Talara, uma cidadezinha dos confins peruanos. Palomino Moleiro, a vítima em questão, é encontrado brutalmente morto em uma fazenda por Lituma e seu fiel escudeiro, o Tenente Silva.
Mesmo frente à imagem do homicídio brutal, o guarda não perde a oportunidade de ter uma reflexão sagaz, coisa que faz com freqüência. Aliás, boa parte de seu personagem é composto por seus pensamentos e alterego. Muitas vezes as lógicas de Lituma são ditas em voz alta, diminuindo sua autoridade. No entanto, é uma boa pessoa. Se deixa abater pelo crime e pelo estado em que se encontra a mãe do falecido.
Na promessa de resolver o misterioso assassinato, ambos os policiais se deparam com uma rede de corrupção. Lituma com seu caráter auto-depreciativo se frustra logo com a incapacidade perante os peixes grandes da aeronáutica. As surpresas não são seu forte, por mais que o livro seja puro suspense. O policial tem uma personalidade bastante imprópria ao seu propósito, é um medroso assumido.
Melancólico, ora nostálgico, a criação de Llosa é tímida e introvertida. Oposto do Tenente Silva que passa o tempo todo correndo atrás de uma mulher casada, falando besteiras. Apesar disso, participa dos gracejos do Tenente e até defende-o em alguns momentos. Mas geralmente Lituma se mostra educado e preocupado em ajudar as pessoas, na verdade quer ser mais prestativo do que já é.
O Tenente Silva exerce certo poder sobre Lituma. Em parte por ser mais velho, também por ser fisicamente mais robusto. Os devaneios de Lituma mantêm a memória de Palomino Moleiro vivo durante a narrativa. As músicas e boleros do Palomino invadem a cabeça do guarda civil toda vez que o cenário é a noite praiana de Talara.
"Filhosdumagrandíssima" é assim que Lituma começa e termina o romance policial. E a expressão de espanto e indignação do soldado é usada apenas para abrir e fechar a estória, sem cansar o leitor, caso fosse transformada em um bordão freqüente do personagem central do livro.
Quem é Lituma no meio dessa gente? Um caboclo, assim como Molero, que ganha destaque ao ser brutalmente morto. Mas é esse caboclo-soldado o responsável por umas das melhores passagens do livro, quando o narrador descreve suas impressões frente ao déspota coronel Mindreau, à excêntrica Alícia Mindreau, ao perspicaz Tenente Silva e suas tentativas de conquistar a difícil dona Adriana. O ritmo captura o leitor da primeira a ultima linha. Parece despretensioso, mas é espelho de uma América Latina revolta e injusta.
AAAh,
ResponderExcluirtu é do sopa de letras também.
Sabia que já tinha visto teu nome em algum lugar pra tu surgir no meu msn do nada
=)
beijo,
Tiago