terça-feira, 17 de novembro de 2009

Tom Wolfe em Porto Alegre

Em seu terno e sapatos impecavelmente brancos, com seus cabelos denotando seus 78 anos, Tom Wolfe subiu ao palco do Fronteiras do Pensamento Braskem 2009, dia 16 de novembro em Porto Alegre, uma noite agradável de segunda-feira, para uma palestra ansiosamente esperada pelos seus fãs. Wolfe, a lenda viva do New Journalism, é um homem de fala mansa e palavras ácidas. Algumas pessoas compreenderam o significado das suas frases e outras acharam sua apresentação medíocre.
Thomas Kennerly Wolfe nasceu no estado da Virgina nos EUA, dia 2 de fevereiro de 1931. Seu tom desagrada por causa do pessimismo. É um deus, prevendo o apocalipse. Inclusive fez menção ao filme 2012, em cartaz. Clichê ou não, ele sabe o que diz, e no fundo das palavras superficiais existe uma verdade inquietante, a intelectualidade atual é burra. Até o título de sua monografia já previa os tempos contemporâneos: "A Zoo Full of Zebras: Anti-Intellectualism in America” (Um Zoológico Cheio de Zebras: Anti-Intelectualismo na América).
“Vivemos o que chamo de depressão número dois. Minha sensação é a de um tremor de terra, de que tudo está de cabeça para baixo”, satiriza o velhinho carismático. Após uma breve introdução do professor e escritor Juremir Machado da Silva, 10 minutos de piano moderno e duas tentativas de Wolfe em falar português, ele deslanchou em uma análise da sociedade em que vivemos e chegou a três principais mudanças que pioraram o mundo. Com seus trejeitos e mãozinhas trêmulas ele explicou: “A primeira grande mudança é o carnaval sexual. A pedofilia vende e isso é preocupante. A repressão sexual é o que nos torna humanos”.
A segunda mudança é no campo das ciências. Ele criticou biólogos e cientistas por negarem a existência do livre-arbítrio. “Se somos todos programados, você e sua teoria também são. Desse jeito, não poderemos confiar em nada”, disse em relação à teoria científica de que os seres humanos são fantoches de seus próprios genes. E finalmente, a terceira grande modificação é a crise dos valores.
Levou tempo para chegar no ponto que todos esperavam e acabou sendo breve. “O fim do jornalismo não é só por causa da internet, mas também da falta de concorrência”, foi a única coisa no monólogo inteiro que pode-se dizer positivista.  Ele não crê no fim da comunicação jornalística, apenas na sua adaptação. “Os jornalistas acham que um texto para a imprensa tem de ser acima de tudo subjetivo, quando é o contrário: temos de buscar a objetividade.”, defende.
Quanto ao jornalismo literário, ele acha que alguns traços permaneceram dos anos 60 até então: “com suas reportagens e livros, o movimento mostrou que a não-ficção é mais interessante que a ficção para contar histórias. É por isso que o romance está morrendo. Está ficando como a poesia, ou seja, posicionado em um pedestal para o qual todos olham de longe, mas ninguém chega perto”. Ainda falou sobre o caso Paris Hilton, o que parece não ter sido compreendido pela platéia pretensamente culta e pouco conhecedora da pornografia youtubiana. “A história de Paris Hilton só faz sentido porque é real, se fosse contada num romance não seria algo plausível, e sim apenas um delírio de ficcionista”, percebeu-se sua frustração em ver que ninguém riu desse comentário absurdo.
Wolfe falou de tudo, quis ser um homem do século XXI, porém é um senhor elegante dos anos 30 e deixa transparecer. Criticou a arte, em sua opinião sincera o método é uma combinação de imaginação e falta de talento. “Ter a habilidade hoje é desonesto”, riu de sua própria anedota. Hoje, enfatizou, é preciso abusar de outros sentidos: “a arte não é mais visual, mas sim conceitual”.  Encerrou seu raciocínio expressando tranqüilidade em relação ao fato, não acredita que se preocupar possa trazer mais conhecimento.
Terminada a conversa o mediador passou a palavras para perguntas dos expectadores. Péssima idéia. As perguntas foram decepcionantes, nem Wolfe conseguiu esconder seu desapontamento. Só para dar o gosto da amargura, um dos questionamentos feito por um estudante de jornalismo que não convém citar foi: “qual a diferença entre o New Jornalism e o jornalismo literário?”. Apesar de visivelmente exausto, Wolfe ainda fez uma sessão de autógrafos na saída do evento. A assinatura frenética e caótica desenha seu nome com uma espiral. 

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