quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Sobre bullying

Estou aqui sentada, com febre, me estressando com causas aleatórias ao invés de descansar. Mas é que eu vejo coisas que as pessoas na minha volta custam a perceber, e isso me inquieta de uma maneira que consome meu fígado, mesmo sem beber um gole de álcool. Acho que sou mais humana do que eu gostaria. A verdade é que sim, fui vítima de bullying. Durante seis anos que estudei no Colégio Israelita Brasileiro, meus colegas (os mesmos que me ameaçaram recentemente pelo post sobre Gaza) me chamavam cruelmente de “Debby Vassorão”, porque eu tinha cabelo comprido, cacheado e volumoso. Fora as muitas gracinhas que eu ouvi, de sobrenomes grandes da comunidade gaúcha, por ser pobre num colégio de ricos, coisas do tipo que o tênis que a minha mãe parcelou em 12 vezes para me dar era falso. Enfim, minha história de vida já ocupa muito espaço neste blog e o que eu quero dizer é que eu entendo o sofrimento de certas pessoas.

Tenho visto por aí uma série de eventos que me chamam atenção. Por exemplo, a menina que praticou o ato racista no jogo de futebol que culminou na expulsão do Grêmio da Copa do Brasil. Tudo bem, ela errou feio e temos leis e justiça que vão fazer com que ela seja punida por seus atos. Aliás, não só ela, não vamos nos esquecer que ela foi uma das poucas reconhecidas em câmera, pois muitos outros gritaram junto e caminham livres por aí. O que me incomoda neste caso é a prepotência das pessoas em ver nela toda a punição de um preconceito que todos carregamos conosco e que é histórico. O que me incomoda é ver ela sofrer uma consequência muito maior do que o ato dela, que não vai ser educativa, porque com toda certeza ela deve estar com muita raiva no coração agora, assim como muita gente que usa ela de pivô também está. O que me incomoda é ver ela sendo chamada de vadia e as pessoas que chamam ela assim não serem igualmente rechaçadas.

Outro caso que me tomou de súbito e ferveu meu sangue foi a disseminação, com tom de ironia, obviamente, da candidatura de um ex-colega de faculdade. Todos, que estudamos com ele, sabemos que ele sofre de diversos problemas que não cabe a mim julgar. Já ouvi várias histórias sobre ele, todas muito tristes. O menino é obeso, sozinho e tem dificuldade de se comunicar, sendo às vezes até agressivo. É mais um infeliz na busca por aceitação. Se ele quer se candidatar a deputado federal e eu não concordo com a campanha dele, me basta escolher outro candidato, não preciso ridicularizar. Achei incrível que um veículo de comunicação gaúcho fez uma entrevista com ele, ironizando na cara dura. A gente sabe que eleições é um tópico delicado e que envolve muita gente estranha, mas vamos "se respeitar". Se você é contra isso, quem sabe se candidata e cria uma lei que impeça esse tipo de coisa? Mas seja sério a respeito do assunto, bullying é bullying em qualquer lugar ou nível.

Acho que as pessoas têm vivido uma época em que bullying e assédio moral ficaram tão comuns que já não é mais evidente e talvez por isso estamos sempre na defensiva. Somos uma geração que cresceu ouvindo piadinhas de pobre, gordo, gay e preto. Isso tem que parar e o único jeito de parar isso é cada um se conscientizar e deixar a justiça agir conforme as leis que nós mesmo sustentamos. Essa menina do caso do Grêmio vai ter que mudar de Estado, de nome, de vida. Será que ela realmente merece uma punição tão a ferro e fogo? Será que ela merece pagar por uma dívida que é da sociedade? Ou você já se esqueceu que já riu de piada de preto, que já chamou colorado de macaco, que a sua empregada provavelmente é negra e você não se sente mal com isso?

Mais do que nunca, estamos num ponto em que precisamos rever certos conceitos e preconceitos com urgência, principalmente se queremos criar gerações livres de ódio, de bullying e de conflitos.

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