30 dias. Era cilada gente. Ao desembarcar aqui conheci o amor da minha vida. A convivência e a intolerância destruíram qualquer possibilidade de florescer esta paixão. Cometi uma série de erros comuns também, como acreditar e confiar numa pessoa que conheci ontem e não sei de onde vem, para onde vai. Normal, quando viajamos, os conceitos de tempo e laços são totalmente diferentes. Viver um dia pode ser muito mais intenso que viver um ano. Mas errar é humano, pena que não é muito perdoável. Também eu não soube perdoar, ainda. É incrível como nos magoamos e decepcionamos fácil e rapidamente com as pessoas. O bom disso tudo é que eu vejo que estou amadurecendo emocionalmente, finalmente, pois percebi que minha situação era absurda e soube sair no momento certo. Perdi um amor, uma amizade e alguns euros, mas saí com dignidade e não deixei de viver a minha vida por ninguém.
25 anos, não é idade pra ser mãe. Não foi isso que eu vim fazer na Europa. Uma coisa que nos escapa ao fazer intercâmbio é o que estamos de fato fazendo. Em parte pelo deslumbre da novidade, em parte porque simplesmente estamos ocupados aprendendo tudo, fazendo tudo e conhecendo tudo. No entanto, é importante sentar e refletir, de tempos em tempos (pode ser um exercício diário), quais os nossos reais objetivos, não só do intercâmbio, mas da vida daqui pra frente, já que este momento incerto pode mudá-la pra sempre. Quando me perguntam quanto tempo vou ficar em Lisboa, dou de ombros, não sei, a vida toda e eu pensava isso de Porto Alegre também.
Aí vem outra tarefa, desgarrar-se e aceitar que agora somos apenas nós duas, eu e minha consciência. Não é que não se possa ter alguém, claro que se pode e deve, mas este alguém (ou estes) vai surgir com o tempo, aos poucos, com as pequenas coisas, com conhecimento. Confiança é algo que só se dá assim,
on daily basis, com provas cotidianas de que é possível entregar sua vida a alguém e vice-versa. E não estou falando de romance, não, minha gente. Isto vale para amizades também, vale para tudo. Até porque, e repito isso para mim mesma em alto e bom som todos os dias, não somos obrigados, NUNCA, a lidar com os problemas alheios. Não precisamos pagar pelos erros dos outros cometidos no passado. Por isso eu sei que ainda não estou pronta para encarar uma vida em família da noite para o dia, porque eu ainda não desejei isto e não me aconteceu por acidente. Eu soube me cuidar para chegar nos meus 25 anos e poder ser livre para viajar, tomar um porre, sair num dia de semana e ter um certo limite de irresponsabilidade que eu ainda considero natural ao meu ser.
Cada um com o seu dilema. Está aí um bom mantra. Não lidar com a merda alheia não quer dizer ser irracional ao ponto de desrespeitar os outros. Isso é outra coisa que estou aprendendo nesta viagem: respeito é mútuo e essencial entre culturas. Desde que cheguei já fui considerada muitas coisas ridículas porque sou diferente e venho de uma cultura
way mais liberal. No início fui muito tolerante e compreensiva, afinal sou eu que estou invadindo estas terras. Mas aí me lembrei que respeito nem sempre quer dizer submissão. Não importa onde eu estiver, tem certas coisas que eu não vou e não quero nunca me calar diante, entre elas estão desrespeito com o corpo da mulher e violência contra crianças. Aliás, violência de uma maneira geral. Quando não existe respeito pela condição alheia, não existe relação bem-sucedida.
E o mais importante de tudo é viver as experiências, absorver o que houve de bom e exorcizar o mal porta a fora. Não existe depois pior que o antes, isto tem que ser inaceitável a toda a gente. Como dizia mamãe: "depois de cair, levanta, sacode a poeira e vamos embora!". E é bem isso, porque a vida não é o que nos resta, pelo contrário, a vida é uma excelente oportunidade de começar de novo a cada nascer e pôr do sol.
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