Sandro Rosa do Nascimento passou a ser parte do Brasil no dia de sua morte, 12 de junho de 2000. Ao seqüestrar o ônibus da linha 174 no Rio de Janeiro, na tentativa de realizar apenas um assalto, as coisas se encaminharam para outro lado. O sensacionalismo midiático, a apreensão dos passageiros e a pressão do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE) foram pequenos estímulos para uma tragédia que não só mudou a realidade no país, como também culminou em um documentário: Ônibus 174 de José Padilha.
Obcecado pela história e pelo documentário de Padilha, Bruno Barreto decidiu fazer um filme ficcional retratando a complexa trajetória de Sandro, mas o foco agora incidia para os bastidores. Ao saber que o protagonista havia sobrevivido à famosa chacina da Candelária, - meninos de rua entre 11 e 19 anos mortos e feridos por policiais na frente de uma igreja no Rio de Janeiro em 1993 - Barreto se apegou ainda mais ao relato. Mas seu ponto ápice foi a descoberta de um drama ignorado pelo jornalismo da época e pouco valorizado no documentário de Padilha, Sandro era órfão desde os seis anos, quando viu a mãe grávida ser morta a facadas por traficantes.“Fiz um filme sobre a condição humana e não sobre a condição social do Brasil. Sua história, baseada em acontecimentos reais, narra as trajetórias de uma mãe que perde o filho e de um filho que perde a mãe.”, define o diretor.
Enquanto isso, uma mulher que havia perdido o filho recém nascido e estava a procura deste, encontra Sandro. “Depois de pesquisar, descobri que ela tivera um filho chamado Alessandro cujo pai ela não tinha certeza quem era. Todos os dias de manhã, ela saía para o trabalho e deixava o menino com a vizinha. Um dia, ao voltar, a vizinha e Alessandro tinham desaparecido. Ela passou a viver obcecada pela idéia de recuperar o filho." , Barreto conta o drama desta mulher que acabou adotando Sandro. O diretor ainda ressalta: "o drama dessas duas pessoas em busca de afeto e que tentam sobreviver em condições totalmente desfavoráveis poderia acontecer em qualquer lugar e qualquer época”.
A reconstituição da vida do personagem não se esforça para ser extremamente fidedigna ao real, pois algumas mudanças foram feitas objetivando cativar o público. As cenas do seqüestro foram filmadas rigorosamente no mesmo local onde aconteceu a tragédia. “Escolhi filmar todos os exteriores – fora do ônibus – com câmeras de TV, colocando-as exatamente onde estavam quando o fato aconteceu, com um resultado que parecia material de noticiário”, diz o cineasta. Com roteiro de Braulio Mantovani, mesmo roteirista de Cidade de Deus, o filme promete ser um sucesso de bilheteria. A crítica já fez sua parte na divulgação, no momento em que se demonstrou interesse em captar o ponto de vista do outro lado o filme passou a ser alvo de diversas opiniões sobre o assunto. A equipe de Última Parada 174 espera transmitir a mensagem que a violência urbana urge em mostrar todos os dias, mas poucos prestam atenção.
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