quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

2015 free

De outubro para cá vivi 10 anos em 90 dias. Larguei meu emprego, passei num processo seletivo para ir trabalhar num estágio profissional em Portugal, pela AIESEC. Iniciei um pedido de visto, eterno, que ainda não chegou. Larguei a vida saudável, bebi, fumei, saí, dormi demais, dormi de menos, parei de correr, parei de comer, voltei a comer, roí as unhas. Amei, pela terceira vez na vida, mais uma pessoa errada. A desilusão foi rápida, pelo menos isso. Encontrei tantos outros, tantos poucos, tão insignificantes que já nem lembro o nome e o endereço. Conheci gente maravilhosa, que vou levar pra sempre no coração.

Nestes três meses, fiz amizades mais intensas que as que tenho de anos. Aprendi a me apegar à distância e me desapegar de perto. Passei por um susto com a minha saúde, depois com a da minha mãe. Muitas coisas deram errado, muitos planos foram riscados, cansei de fazer listas, listas são para pessoas que não querem viver, só sonhar. Cansei de sonhar também, meti os pés na realidade e fui indo. A ansiedade me levou até São Paulo, num primeiro momento egoísta, pensando só no visto, na minha garantia de ir logo para Lisboa fazer a vida. Mas como esses dias foram intensos, em 15 minutos tudo mudou. Tive a minha primeira experiência de liderança na AIESEC, fui staff de comunicação no Youth to Business Brazil. Entrei ontem na organização e quando vi já estava numa oportunidade nacional. Apaixonei.

Uma semana e fiz outra família, irmãos de Estados que ainda tenho que conhecer. Me perdi e me achei em São Paulo, achei amor, fica na Paulista, num lugar chamado Livraria Cultura, pertíssimo de um Banrisul. Comi doce de feijão direto da Liberdade. E que liberdade foi essa! Não consigo acreditar no medo que eu tinha de ir embora, como estou pronta para voar e me jogar ao destino. Não é o fim, ao contrário, 2015 é o começo de tudo. Tudo que eu vivi até aqui não foi nada, nem se quer um teste de sobrevivência. Agora que começa, sem planejamento, sem certezas, sem motivos para ansiedade, sem ter o quê buscar, apenas um caminho para seguir e seguir da maneira que eu desejar.
Acho que agora eu posso dizer que entendi o valor da minha liberdade, em todos os sentidos.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Por que AIESEC?

Passei meu último final de semana emergida numa conferência local da organização não governamental que faço parte, AIESEC. Várias coisas boas aconteceram nessa atividade, conheci muita gente, descobri muita coisa que eu ainda não sabia sobre a entidade e saí de lá muito motivada a fazer mais e fazer melhor. Acho incrível essa sensação, não de que eu posso mais, mas de que faço parte do mundo e sou MUITO responsável pelo andamento dele. Me assusta, só que o choque é necessário para que eu saiba por onde começar e é isso que a AIESEC é para mim, um start para um legado que eu vou ter muito orgulho de dizer que fiz parte.

Cheguei nesta segunda-feira exaustiva no trabalho e abri canais de notícia, como faço rotineiramente. Vi fatos absurdos ocorrendo por aí, como as notícias abaixo:
Mulher é estuprada duas vezes em menos de uma hora em Nova York - Vítima foi pedir ajuda a um homem depois do primeiro abuso e foi violentada mais uma vez
Homem armado mantém refém em hotel de Brasília - O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei

As pessoas estão vivendo no limite. Principalmente no limite das suas vontades. É o niilismo tomando conta. Mas eu não entrei em pânico, porque eu voltei desse final de semana inspirada e sei que existem soluções e elas estão dentro de cada um. Acreditar, mesmo quando parece impossível, é ferramenta essencial. E, pensando nisso, percebi que tem fatos bons ocorrendo, concomitantemente:
Novo presidente toma posse e coloca fim à crise política no Afeganistão
Grupo organiza ‘beijaço’ LGBT na Paulista em resposta a Fidelix

Dizem que as pessoas inteligentes são as que vivem e se alimentam de dúvidas e questionamentos. Nestes dois dias que se passaram, eu me perguntei se a AIESEC cumpre seu propósito de liderança, paz mundial e mudança por meio dos jovens que atinge. Minha conclusão foi que sim, entretanto quem faz isso acontecer, não é a organização e sim nós. Cada um de nós, é isso que forma a AIESEC e refletir que ela existe há mais de 60 anos e já impactou 1 milhão de pessoas é emocionante.

Não estou escrevendo esse texto para fazer propaganda da instituição. É apenas algo que eu quis dividir, mesmo sabendo que as pessoas só entendem o que eu estou dizendo quando vivem isso. Eu ainda não me apliquei para nenhum intercâmbio com a AIESEC, mas já rodei uma parte do mundo e posso dizer que a multiculturalidade exerce um poder indescritível sobre quem tem mente e coração abertos. Estou rumo a uma aventura dessas, em breve, na América Latina e antes de ir já posso dizer que recomendo, que tenho certeza que vai ser top, porque eu vou estar lá, eu vou exigir isso de mim, eu vou fazer a minha trajetória de impacto e a minha experiência vai ser demais.

Pensem nisso, nas experiências que vivem. Pensem no quanto ainda tem por fazer e onde vocês se encaixam na mudança. Sejam resilientes e agentes do futuro que buscam para todos.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Sobre bullying

Estou aqui sentada, com febre, me estressando com causas aleatórias ao invés de descansar. Mas é que eu vejo coisas que as pessoas na minha volta custam a perceber, e isso me inquieta de uma maneira que consome meu fígado, mesmo sem beber um gole de álcool. Acho que sou mais humana do que eu gostaria. A verdade é que sim, fui vítima de bullying. Durante seis anos que estudei no Colégio Israelita Brasileiro, meus colegas (os mesmos que me ameaçaram recentemente pelo post sobre Gaza) me chamavam cruelmente de “Debby Vassorão”, porque eu tinha cabelo comprido, cacheado e volumoso. Fora as muitas gracinhas que eu ouvi, de sobrenomes grandes da comunidade gaúcha, por ser pobre num colégio de ricos, coisas do tipo que o tênis que a minha mãe parcelou em 12 vezes para me dar era falso. Enfim, minha história de vida já ocupa muito espaço neste blog e o que eu quero dizer é que eu entendo o sofrimento de certas pessoas.

Tenho visto por aí uma série de eventos que me chamam atenção. Por exemplo, a menina que praticou o ato racista no jogo de futebol que culminou na expulsão do Grêmio da Copa do Brasil. Tudo bem, ela errou feio e temos leis e justiça que vão fazer com que ela seja punida por seus atos. Aliás, não só ela, não vamos nos esquecer que ela foi uma das poucas reconhecidas em câmera, pois muitos outros gritaram junto e caminham livres por aí. O que me incomoda neste caso é a prepotência das pessoas em ver nela toda a punição de um preconceito que todos carregamos conosco e que é histórico. O que me incomoda é ver ela sofrer uma consequência muito maior do que o ato dela, que não vai ser educativa, porque com toda certeza ela deve estar com muita raiva no coração agora, assim como muita gente que usa ela de pivô também está. O que me incomoda é ver ela sendo chamada de vadia e as pessoas que chamam ela assim não serem igualmente rechaçadas.

Outro caso que me tomou de súbito e ferveu meu sangue foi a disseminação, com tom de ironia, obviamente, da candidatura de um ex-colega de faculdade. Todos, que estudamos com ele, sabemos que ele sofre de diversos problemas que não cabe a mim julgar. Já ouvi várias histórias sobre ele, todas muito tristes. O menino é obeso, sozinho e tem dificuldade de se comunicar, sendo às vezes até agressivo. É mais um infeliz na busca por aceitação. Se ele quer se candidatar a deputado federal e eu não concordo com a campanha dele, me basta escolher outro candidato, não preciso ridicularizar. Achei incrível que um veículo de comunicação gaúcho fez uma entrevista com ele, ironizando na cara dura. A gente sabe que eleições é um tópico delicado e que envolve muita gente estranha, mas vamos "se respeitar". Se você é contra isso, quem sabe se candidata e cria uma lei que impeça esse tipo de coisa? Mas seja sério a respeito do assunto, bullying é bullying em qualquer lugar ou nível.

Acho que as pessoas têm vivido uma época em que bullying e assédio moral ficaram tão comuns que já não é mais evidente e talvez por isso estamos sempre na defensiva. Somos uma geração que cresceu ouvindo piadinhas de pobre, gordo, gay e preto. Isso tem que parar e o único jeito de parar isso é cada um se conscientizar e deixar a justiça agir conforme as leis que nós mesmo sustentamos. Essa menina do caso do Grêmio vai ter que mudar de Estado, de nome, de vida. Será que ela realmente merece uma punição tão a ferro e fogo? Será que ela merece pagar por uma dívida que é da sociedade? Ou você já se esqueceu que já riu de piada de preto, que já chamou colorado de macaco, que a sua empregada provavelmente é negra e você não se sente mal com isso?

Mais do que nunca, estamos num ponto em que precisamos rever certos conceitos e preconceitos com urgência, principalmente se queremos criar gerações livres de ódio, de bullying e de conflitos.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Blá blá blá balde de gelo

Das coisas mais absurdas que tenho visto acontecer em 2014, o Desafio do Balde de Gelo passou a ocupar o número um do meu top 10. Em época de seca, falta de água e escassez drástica de recursos naturais no Brasil, o método utilizado para levantar fundos para uma entidade norte-americana de portadores Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) não poderia ser mais irracional. A iniciativa é simples: você se filma levando um balde de água gelada (sim, isso mesmo), depois indica mais três amigões para encarar o desafio. A moral? Levantar fundos para os pacientes com ELA.

Eu até consigo entender a justificativa, eles se basearam na Corrente do Bem, e essa metodologia de ir de um para três é ótima. Mas aí você se pergunta sobre o tal do método da metodologia e eu te digo: o balde era o pior de todos. Ponto número um: no momento que esta imbecilidade viralizou, o efeito foi o contrário ao desejado pela entidade sem fins lucrativos, pois as pessoas aderiram pela visibilidade e não pela boa ação. Ponto número dois: 2014 tem sido um ano zicado e obviamente o evento envolveu fatos bizarros como, por exemplo, o criador da campanha morrer afogado. Ponto número três: os brasileiros das regiões afetadas pela estiagem, que já dura meses, se sentiram ofendidos pelo desperdício de água, e com razão, oras, água não é um recurso inesgotável. Ponto número quatro: as pessoas começam a exagerar quando se trata de aparecer na mídia e coisas como isto acontecem, "Desafio do balde de gelo dá errado e deixa bombeiros feridos nos EUA".

O que eu sugiro? Quer fazer uma boa ação? Faça! Independente dos outros, dos recursos, vá você mesmo até alguém com necessidade e resolva um problema que você pode resolver. Existem inúmeras organizações precisando de doações, não só financeiras. Se você contribuir para alguém/algo próximo de você, já estará compartilhando um mundo melhor.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Aprendi

Estou aqui sentada escrevendo de caso pensado, ao contrário que da última vez. Escrevo porque aprendi diversas coisas esta semana e achei estas coisas tão absurdas que preciso por pra fora e compartilhar com vocês. Aliás, esse texto cheio de amor no coração vai causar ódio a grande parte das pessoas, já aviso.



Minha vida passou por um recente reboliço em função deste texto acima. Recebi elogios, ameaças, xingamentos e todo o tipo de reação possível. Não esperava, não esperava nada disso e por diversos momentos cheguei a odiar essa exposição. As palavras que eu vomitei na rede social não foram palavras de ódio e, sim, de um desespero de quem vê vidas humanas sendo massacradas de uma maneira inexplicável e quase inacreditável. Mas eu não vim aqui explicar o que eu sinto sobre o grande conflito no Oriente (nem tão) Médio.

Das coisas que eu aprendi, a mais importante foi que não temos liberdade de expressão. É uma ilusão, uma falácia, dizer que as redes sociais nos permitem atingir o mundo com todo o tipo de opinião. Podemos até atingir, mas temos que nos lembrar que o mundo nos atingirá de volta. Na verdade, ouvi, nos últimos dias, uma infinidade de gente me dizer que eu jamais deveria ter exposto o que eu sentia. Estamos em pleno século XXI, falamos livremente de sexo, de condição social, de política, no entanto, certos assuntos seguem sendo "certos assuntos".

Aprendi que pessoas, que se dizem bem informadas, vieram dolorosamente me criticar, se utilizando de links provenientes de veículos como Veja, Brasil 247 (desconheço) e Wikipedia. Aprendi que nunca tive verdadeiros amigos nos colégios de educação judaica, pois 99% deles acha que o meu texto foi um ataque pessoal aos anos de bullying que sofri na infância e adolescência. Aprendi que meu sentimento é fruto de algum recalque ou trauma que sofri no passado, afinal, nenhuma pessoa em sã consciência diz de verdade o que pensa. Aprendi que a minha página pessoal não é minha, que não posso controlar o que se passa nela, pois cada vírgula descontenta. Aprendi valiosamente que posso mover montanhas com alguns toques de teclado, mesmo que inocentemente.

Aprendi que existe muitos como eu e acho que essa foi uma das melhores coisas que aprendi. Aprendi que qualquer frase negativa contendo qualquer palavra que remeta ao judaísmo é uma tentativa de antissemitismo. Aprendi que as pessoas não sabem escrever antissemitismo, tão pouco a gravidade do significado da palavra. Aprendi que o ódio nasce ao contrário: quanto mais você aponta uma atividade inescrupulosa, mais apontam para você e te chamam de inescrupulosa.

domingo, 6 de julho de 2014

Sobre exoesqueleto, jornalistinhas, progresso e coitadismos

*Antes de criticar a crítica, leia o texto completo :)

Mais um jornalistinha, que jogou anos de estudo e um diploma no lixo, vomitou pela boca. Na ânsia ridícula de escrever um texto romanceado para um jornal, cujo perfil não é este, nem de público, nem de produto, Itamar Melo cometeu um erro comum na imprensa brasileira: a ignorância. Numa tentativa vã de se utilizar de uma história sobre um menino com paralisia cerebral, ele descaracterizou e humilhou o cientista Miguel Nicolelis, criador do primeiro exoesqueleto bem-sucedido do mundo.

Além do texto ser uma merda, literalmente, porque transita entre o tom triunfante de um ex-cadeirante que se auto-superou e o tom jocoso de qualquer cadeirante possa fazê-lo, há uma imensidade de questões opinativas que demonstram a falta de pesquisa na hora de escrever a matéria. Para não ser uma pessoa que só critica pelo bel prazer de falar mal dos outros, eis um exemplo crucial:
A história incrível e emocionante que era esperada em São Paulo, mas não aconteceu, acabou por se desenrolar de surpresa em Porto Alegre, na última segunda-feira, no jogo entre Alemanha e Argélia. Getúlio Felipe Fernandes da Silva, nove anos, perdeu praticamente todos os movimentos do corpo devido à paralisia cerebral que o acometeu horas depois do parto. Aos três anos, não conseguia sequer ficar de pé. Mas entrou no gramado do Beira-Rio caminhando de mãos dadas com seu ídolo, o goleiro alemão Neuer. O menino de Alvorada não chegou lá auxiliado por uma engenhoca com tecnologia de ponta, mas devido a longos anos de árduo esforço. Venceu uma Copa do Mundo particular e comoveu meio mundo.
A engenhoca, a qual se refere Melo, se trata de uma conquista única da comunidade científica. Não só por trazer a possibilidade de movimento para tetraplégicos (que não é o caso do menino Getúlio, basta uma rápida pesquisa no Google para saber a diferença entre tetraplegia e disfunções cognitivas causadas por paralisia cerebral), como também por ser muito mais eficiente que a fisioterapia tradicional. Sem deixar de levar em consideração a história de Nicolelis, né? O cara saiu do país para estudar, décadas atrás, porque aqui não tinha nem bolsas de estudo, nem programas de incentivo na área. Não é a toa que ele promove os governos petistas, afinal, foram os que mais investiram em educação e na captação de corpo científico no Brasil, inclusive a criação do Ciências sem Fronteiras é uma maneira de possibilitar a educação em campi estrangeiros, desde que a criatura volte para atuar em solo nacional.

Mas voltando à bizarrice que vomitou nosso amigo Melo, da Zero Hora. Desde quando que uma pessoa com qualquer tipo de dificuldade motora ou cognitiva precisa se auto-superar? Quem disse isso? Por que essa exaltação de que a pessoa com deficiência precisa se esforçar para parecer normal? Porque este é o tom da matéria, aplaudir o menino Getúlio, que graças a um esforço doloroso, consegue parecer uma criança como as outras e agir como um ser humano qualquer. Qual o fucking problema em ser deficiente? Pensando nisso e digerindo esta informação sem sentido, me vi revendo um vídeo do programa do Huck, transmitido ontem, onde ele pedia (veja bem, PEDIA) para Lais Souza (aquela atleta que fez uma lesão grave nas Olimpíadas de Inverno, na Russia, este ano) mandar uma mensagem de apoio a Neymar, que atualmente sofre de coitadismo.

A nossa imprensa é engraçada, não vê progresso em casos como o exoesqueleto, no entanto se debruça aos pés de um jogador que, na minha opinião, não deu o melhor de si nesta Copa do Mundo. Tudo bem, ele sofreu uma falta e uma lesão mediana, que requer cuidados. Só que as possibilidades dele deixar de andar são nulas, em seis semanas ele volta pro campo. O quão justo é pedir para uma menina jovem que teve a vida interrompida, após perder o movimento do corpo todo, falar para o Neymar que tudo vai ficar bem?


Não sei quem vomita mais bobagens sobre assuntos médicos por aqui, só sei que fico com raiva desses casos. Não, Neymar, não "tamo junto" como a mídia diz, tu vais te recuperar e voltar com o corpo mole pra Seleção, além de estar podre de rico rindo da nossa cara. É uma pena que ninguém tenha se comovido assim por pessoas como a Lais, que além de estar correndo atrás de assistência financeira para sobreviver, afinal foi-se a carreira dela, não vai saber NUNCA mais o que é pisar numa grama molhada, sentir a onda do mar no calcanhar, correr... E não, Melo, não é por falta de esforço dela, é porque não importa o que ela faça, acabou. Pedir para que pessoas como ela sejam fortes e lutem é injusto, tanto quanto exaltar um progresso que é óbvio e humilhar uma ciência para nós desconhecida.

Antes de publicar, senhor jornalista, pesquise, o mínimo que seja. Por mais dramática e romanceada que seja a sua história, se ela for produto jornalístico ainda carecerá de imparcialidade, do desenvolvimento de dois lados.

Deixo aqui um texto do Estadão sobre o Nicolelis, bem rasoável, o vídeo ridículo do Caldeirão do Huck, e um texto FANTÁSTICO sobre essa exaltação com o Neymar.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Sobre pessoas, empatia e moradores de rua

Nunca desviei o olhar, mesmo quando criança. Apesar das histórias do velho do saco, nunca tive medo de morador de rua. Pelo contrário, gostava de conversar com eles e muitas vezes questionava minha mãe sobre porque eles não tinham casa para morar e o que de tão ruim eles tinham feito para estarem ali. Ser mendigo, pedinte, morador de rua, ou qualquer outro sinônimo, nunca me pareceu uma opção de vida. Sei porque já vivi situações limítrofes. Passar frio, fome, dor, raramente é uma opção pessoal do tipo: "ah, vou ali sofrer um pouco e já volto."


O que eu tenho ouvido de gente, de tudo que é idade, mas principalmente da minha (vinteepoucosanos), dizendo que mendigo tem mais é que se ralar, é algo impressionante. Não sei se fui educada demais, ou se a compaixão sempre foi um valor importante para mim, mas não consigo simplesmente desviar o olhar deste problema social e fingir que ele é de algum governo qualquer que não o meu individual (não vou entrar em questões acadêmicas, porque ficará longo e cansativo). Se voto, logo existo e pertenço à sociedade. Se pertenço, é problema meu sim. E cabe a mim cuidar do mais vulnerável. Essa é a minha lógica de vida, independente das minhas visões espirituais.

Agora está na moda ser saudável, ser gentil, ser "cool", mas só com que merece. As pessoas compartilham mensagens de vibrações positivas, de estímulo ao bem, mas não querem pagar os 10% do garçom, não dão esmola, não se enaltecem com uma alma carente pedindo cobertor para passar uma noite fria e chuvosa de inverno. "Gentileza gera gentileza", no entanto, quem reproduz a máxima raramente coloca a mesma em prática. As pessoas ficam esperando que a gentileza venha para que daí então seja retribuída.

Não digo isso porque passei mal num ônibus coletivo essa semana e ninguém me ofereceu o lugar. Não é rancor, é uma observação, quase uma incredulidade de como estamos cada vez mais bárbaros, com discursos felizes e otimistas. É fácil ser vegetariano e passar por um animal abandonado e não fazer nada. É fácil achar que todo restaurante tem esquema para roubar os 10% do garçom e achar que aqueles 3 reais a mais na conta não vão ajudar uma pessoa que recebe salário mínimo. É fácil falar mal de lixeiro, afinal ele é concursado, logo ele escolheu limpar o cocô do cachorro do seu vizinho do chão, porque, para ele, essa era a escolha. Só pode ser isso. As pessoas enlouqueceram e eu não vi quando isso aconteceu.

Talvez eu me sensibilize porque eu nasci no dia do gari. Talvez seja porque a área da empatia do meu cérebro é muito grande e eu me sinto mal quando quem está na minha volta está mal. Sou justiceira social por natureza, por instinto de sobrevivência. Não é questão de salvar todos os moradores de rua e dormir com a consciência tranquila, é questão de entender o problema, saber que se faz parte dele, que se pode tentar melhorar ele com as próprias mãos/atitudes, que é, sim, possível mudar o mundo e só depende de nós mesmos.

Eu espero que seja uma fase. Que isso passe. Que as pessoas voltem a conversar umas com as outras e conheçam as suas histórias de vida antes de pensar que a situação delas foi apenas uma escolha ruim. Espero que essa geração mude, cresça e veja que para gerar gentileza não se pode sentar e esperar, é necessário correr atrás, atrás dos outros, favorecer o oprimido, facilitar vidas SEM ESPERAR um retorno disso.

Deixo no fim deste post duas coisas essenciais, uma matéria sobre um morador de rua que está trabalhando na Copa do Mundo para sobreviver mais uns dias e um vídeo que deveria ser passado no jardim da infância para fins de universalidade da palavra empatia.

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Voltei

Cansei, Calei
Fugi, Cresci
Andei e andei
Até que desapareci

Na solidão me econtrei
Me vigiei
Até que entendi
Fiquei, fiquei
Até que sorri

De novo sou
O que deixei de ser
Quando esqueci
Que era amor
Para pertencer

Agora a dor
Ei de apagar
E toda história
RE
CO
ME
ÇAR...

quinta-feira, 27 de março de 2014

Eu nunca mais liguei o chat

Perdi a vontade de falar com as pessoas.
São sempre os mesmos assuntos, sempre as mesmas pessoas.
Discussões infinitas sobre "política", sexo e a pegada da semana passada.
Até as músicas do momento são artificiais. É tudo tão pré-estabelecido, pré-calculado... Chega a ser plastificado, às vezes. Do que a gente come, ao que a gente fala e sente.
As pessoas na minha volta são todas iguais ou seguem todas os mesmos padrões, têm as mesmas opiniões, mesmos estilos, mesmas vontades.
Todos falam em liberdade. É tanta liberdade que me sufoca.
Se não concordamos, não fazemos parte. É errado questionar, a não ser que se questione a oposição.
A oposição quem é? Os militares, a polícia, os políticos que cortam árvores.
Não podemos falar que não estamos contentes. Não podemos ser diferentes, a não ser que sejamos parte de minorias.
Somos julgados por nossas aparências. Porque sou mulher branca tenho que ostentar uma vida feliz.
Se encontramos algo inédito somos burros, ingênuos ou estamos enfrentando nosso antecessores.
Se defendemos uma ideia que não é a de todos, somos fracassados, somos egoístas.
Falar se resumiu em dizer: "Oi, tudo bem?"
E as respostas são sempre as mesmas, porque é proibido dizer que não está tudo bem. A não ser que seja sobre a política, as obras da Copa ou a economia.
Não podemos mais ser humanos.
E é por isso que eu não ligo mais o chat, é por isso que eu descarto amigos e relacionamentos como se fossem de papel. Porque são de papel. Porque eu não quero mais gastar caracteres para dizer mais do mesmo. Porque eu vou enfrentar, afrontar e crescer se eu falar. E tudo isso é errado e não faz parte deste tempo.

Por isso que eu vou viver no meu silêncio de agora em diante.

Distante.
Obstante.

Amém.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Sobre como me tornei uma "sexista intolerante"

Estava a toa na vida quando realizei que havia me tornado uma "sexista intolerante". Das piores, porque me depilo, porque uso batom. Tenho 24 anos, uma graduação, estou finalizando um mestrado e sou bem-sucedida em termos de carreira. Meu problema? Nenhum, do meu ponto de vista. Para os outros, eu deveria estar namorando, casando, tendo filhos. Não estou, não porque não quero, mas porque simplesmente isto não vai acontecer para mim e cada vez mais eu compreendo isso. O motivo? Meu "sexismo intolerante".

Não é de hoje que tenho "dedo podre" para homem e tendência em repetir padrões (recomendo a leitura deste texto do Ivan Martins sobre o assunto). Mas antes eu aceitava isso e sobrevivia. Agora, eu simplesmente não consigo mais. Levar uma relação adiante? Um sacrifício! Os caras só querem saber de amor livre e pegar geral. Não tenho nada contra, acho bonito, porém não é o que eu preciso. Abre parênteses aqui: preciso e, não, quero, porque a gente sabe, quando se conhece, que tipo de amor serve pra si.

Pois então, não é que eu esteja cansada das festas ou da vida noturna. Não é que eu ache ficar por ficar ruim ou sexo banal. Todos precisamos destas coisas em algum ponto da vida e não vamos cuspir nos pratos que nos serviram e servem tão bem. É que eu não entendo mais como podem as pessoas se tratarem só e sempre como objetos o tempo todo e nunca quererem alguém pra si (quantos advérbios!).

Eu já fiz mil textos neste blog sobre o amor, não vou entrar no mérito disto agora. Estou claramente em depressão nos últimos meses, sei do fato e venho buscando alternativas contra isto. No entanto, tenho ouvido cada uma dos homens que venho saindo que não tem como não piorar, como desacreditar nesta vida de "casada, com filhos e família". Cada vez me vejo mais solteira e menos tolerante a ficar com alguém (seja por uma noite, seja pra eternidade).

E, pasmem, tenho saído com intelectuais, homens estudados, que se dizem até feministas. Mesmo assim, eles têm a indecência e a cara de pau de comparar mulher a frango e dizer que não conseguem ficar sem "comer mais de um por vez". Sim, vou pagar meus pecados com este texto, mas é chegada a hora de por pra fora o que eu estou sentindo.

Eu sou uma vítima de abuso sexual. Eu nunca comento isso, raras exceções. Não por vergonha, apesar de já ter sido inúmeras vezes ridicularizada. Simplesmente porque eu vivo numa paranoia de que nunca vão acreditar em mim ou vão esperar que eu seja uma pessoa com uma certa postura de vida que eu não represento.

Eu tenho marcas (virtuais) que são pra vida toda, não tem terapia ou remédio que cure ou amenize esse sofrimento, o que torna ainda mais difícil a minha tolerância ao sexo oposto. Mesmo assim, eu faço um esforço para participar. Abre o segundo parênteses aqui: um dos motivos pelos quais estou falando tudo isso publicamente é porque me identifiquei com um personagem de um livro, o Charlie, do The Perks of Being a Wallflower (Stephen Chbosky). A obra é de 1999 e conta a história de um adolescente no início dos anos 1990 tentando sobreviver esta fase da vida. Ele fala muito em "participar" e não apenas observar "what's going on".

Eu sempre fui agitada e muito extrovertida, só que, agora, eu percebo que eu participo muito pouco. Estou na esquina, assistindo e não faço questão de me envolver. Hoje em dia, menos ainda. Me envolver pra quê? Pra ser comparada a uma coxinha? Já é duro que, para conseguir conquistar o olhar de alguém, eu preciso me submeter a uma ditadura da moda, eu preciso ser "bonita" e eu preciso sofrer com isso. Eu quero parar de me expor.

E como participar sem se expor? Como conquistar um futuro que eu possa me orgulhar de ser assim?
Dizem que eu preciso me valorizar. Me dizem coisas do tipo: "você está certa, não tem que tolerar mesmo, tem mais que bloquear." E assim eu vou, bloqueando uma vasta lista de ex-alguma-coisa-que-poderia-ter-sido. Ou apenas esquecendo, deixando de lado, vendo de vez em quando. Ou pior, arranjo um novo caso para me distrair. E na minha triste visão de "sexista intolerante", nenhum presta, nenhum nunca vai prestar, "são todos iguais".

Como acreditar? Como ter esperança? Eu estou numa busca constante de sentir, sentir qualquer coisa, para ter certeza de que não estou observando, que saí da esquina. Não é coisa do meu tempo, eu sei, eu deveria ser a favor do amor livre e estar pegando geral e achando tudo isso lindo. Só que alguém esqueceu de me explicar como se anulam certas coisas no caminho, o que se faz com o apego? Eu até confesso que pratico o desapego, depois que está tudo acabado. E é incrível o número de relacionamentos que eu acabo antes de começar.

Sabem, acho que o texto em si não é nem um desabafo, é mais um pedido de ajuda, um desespero de achar alguém que se sinta assim, que tenha uma fórmula mágica para mudar tudo. Sim, sou grandinha e sei que não existe tal coisa. Existe apenas o seguir vivendo e aprendendo e errando e se ferrando (para não dizer mais feio).
Ninguém percebeu como a rapariga escapava dos seus afazeres, nuns minutos de cada vez, para se ir insinuar ao rapaz com um amor baralhado, magoado, encurralado, sem ter mais para onde ir. E o rapaz reiterava o desprezo. Já não a queria. Dizia que ela o traíra acusando-o aos seus pais. Já não a queria. Dizia que ela era feia, que entretanto estava com dezoito anos de velha e que as raparigas mais livres começavam a aparecer pela praça ele ia lá colhê-las como das árvores. É só pegar e deitar-lhes a boca, porque foram feitas para os rapazes. As raparigas fora feitas para os rapazes, dizia ele mil vezes. A Isaura, crescendo toda, dava-lhe tudo se ele quisesse. Mas ele pensava que ela era um problema. Pensava que, afinal, não queria comprometer-se tão novo porque as raparigas livres abundavam e ele queria abundar na sorte de as ter por perto. [...] Ela entristecia de tal modo, e tanto se mostrava de vítima, que achava poder apelar a alguma piedade do rapaz. Ele, por outro lado, achava mais e mais que a Isaura era uma coitada, e que já era sorte que ele a usasse para o prazer. Porque usá-la assim já era dar-lhe o amor a que ela tinha direito. O único amor que teria direito. O amor dos infelizes. 
Valter Hugo Mãe, O filho de mil homens, páginas 48-49.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014