quarta-feira, 25 de junho de 2014

Sobre pessoas, empatia e moradores de rua

Nunca desviei o olhar, mesmo quando criança. Apesar das histórias do velho do saco, nunca tive medo de morador de rua. Pelo contrário, gostava de conversar com eles e muitas vezes questionava minha mãe sobre porque eles não tinham casa para morar e o que de tão ruim eles tinham feito para estarem ali. Ser mendigo, pedinte, morador de rua, ou qualquer outro sinônimo, nunca me pareceu uma opção de vida. Sei porque já vivi situações limítrofes. Passar frio, fome, dor, raramente é uma opção pessoal do tipo: "ah, vou ali sofrer um pouco e já volto."


O que eu tenho ouvido de gente, de tudo que é idade, mas principalmente da minha (vinteepoucosanos), dizendo que mendigo tem mais é que se ralar, é algo impressionante. Não sei se fui educada demais, ou se a compaixão sempre foi um valor importante para mim, mas não consigo simplesmente desviar o olhar deste problema social e fingir que ele é de algum governo qualquer que não o meu individual (não vou entrar em questões acadêmicas, porque ficará longo e cansativo). Se voto, logo existo e pertenço à sociedade. Se pertenço, é problema meu sim. E cabe a mim cuidar do mais vulnerável. Essa é a minha lógica de vida, independente das minhas visões espirituais.

Agora está na moda ser saudável, ser gentil, ser "cool", mas só com que merece. As pessoas compartilham mensagens de vibrações positivas, de estímulo ao bem, mas não querem pagar os 10% do garçom, não dão esmola, não se enaltecem com uma alma carente pedindo cobertor para passar uma noite fria e chuvosa de inverno. "Gentileza gera gentileza", no entanto, quem reproduz a máxima raramente coloca a mesma em prática. As pessoas ficam esperando que a gentileza venha para que daí então seja retribuída.

Não digo isso porque passei mal num ônibus coletivo essa semana e ninguém me ofereceu o lugar. Não é rancor, é uma observação, quase uma incredulidade de como estamos cada vez mais bárbaros, com discursos felizes e otimistas. É fácil ser vegetariano e passar por um animal abandonado e não fazer nada. É fácil achar que todo restaurante tem esquema para roubar os 10% do garçom e achar que aqueles 3 reais a mais na conta não vão ajudar uma pessoa que recebe salário mínimo. É fácil falar mal de lixeiro, afinal ele é concursado, logo ele escolheu limpar o cocô do cachorro do seu vizinho do chão, porque, para ele, essa era a escolha. Só pode ser isso. As pessoas enlouqueceram e eu não vi quando isso aconteceu.

Talvez eu me sensibilize porque eu nasci no dia do gari. Talvez seja porque a área da empatia do meu cérebro é muito grande e eu me sinto mal quando quem está na minha volta está mal. Sou justiceira social por natureza, por instinto de sobrevivência. Não é questão de salvar todos os moradores de rua e dormir com a consciência tranquila, é questão de entender o problema, saber que se faz parte dele, que se pode tentar melhorar ele com as próprias mãos/atitudes, que é, sim, possível mudar o mundo e só depende de nós mesmos.

Eu espero que seja uma fase. Que isso passe. Que as pessoas voltem a conversar umas com as outras e conheçam as suas histórias de vida antes de pensar que a situação delas foi apenas uma escolha ruim. Espero que essa geração mude, cresça e veja que para gerar gentileza não se pode sentar e esperar, é necessário correr atrás, atrás dos outros, favorecer o oprimido, facilitar vidas SEM ESPERAR um retorno disso.

Deixo no fim deste post duas coisas essenciais, uma matéria sobre um morador de rua que está trabalhando na Copa do Mundo para sobreviver mais uns dias e um vídeo que deveria ser passado no jardim da infância para fins de universalidade da palavra empatia.

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