Desde criança Alan gostava de escrever seu nome na sola dos sapatos. Essa lembrança nostálgica lhe vinha à cabeça quando se tornava muito difícil suportar a dor. Agora mais do que nunca, pensava no seu primeiro All Star, que acabou por render-lhe uma surra de sua mãe após ser encontrado autografado por ele mesmo. Alan era aquele tipo de perdedor que nunca chora.
Na ausência de luz, observava os pés de sua mãe, talvez ela tivesse sido a pessoa que mais o odiara no mundo todo, pensou. De qualquer maneira, nunca desistiu da árdua tarefa de impressioná-la. Hoje já não podia mais fazê-lo, mas fez questão de escolher o melhor caixão, no melhor cemitério paulista. Ele mesmo vestiu o corpo, como numa espécie de ritual de despedida.
Nas últimas palavras do padre, antes da terra invadir as entranhas dela, ajoelhou-se e beijou seus pés mais uma vez. Ao levantar-se, virou por só um momento, seu coração parou, não conseguiu pensar e achou que seria arrancado da terra como uma flor murcha é, por um jardineiro. Naquele instante, deixou de ser um perdedor.
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