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O livro passava seus dias com os outros, brincando de empurrar e espremer.
Um dia o sol bateu no livro e desbotou o seu azul. Ele não entendeu porque aquilo o deixou triste, vazio. Depois disso, alguns de seus amigos começaram a sumir durante a noite. Eles nunca retornavam. Aos poucos, os espaços vazios foram se multiplicando, assim como a ansiedade do pequeno livro.
Numa manhã fria de inverno, o livro foi tomado pelo súbito conhecimento de sua solidão. Temeroso, se deixou levar para um lugar obscuro do móvel. As mãos vieram procurá-lo, ele não queria deixar-se conhecer. Ficou só, anos a fio.
O livro se esqueceu que era livro, perdeu a memória e já não sabia mais o seu conteúdo. Era infeliz e eterno. Suas beiradas se rasgaram, seu azul virou cinza e seu título desapareceu no pó. Desesperado, o livro decidiu suicidar-se e pulou do alto da estante. O baque foi seco e uma camada de sujeira embriagou o ar.
Horas se passaram e nada, ninguém. De repente, um toque rude e áspero ergueu o livro. A mão, que um dia foi delicada, agora enrugada, se deixou fascinar pelo novo cinza. Aberto, o livro iluminou aquele rosto, trazendo vitalidade. Ah, como era boa aquela história! Tanta informação importante, interessante e que podia mudar vidas. O livro não fazia ideia como era bom se abrir para o mundo e finalmente descobriu a felicidade.
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