segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A pele que habito

Mais do que uma crise de identidade. A pele que habito é uma metamorfose kafkiana. Um retrato da pós-pós-modernidade. Talvez até da hipermodernidade. Bauman deve estar morrendo de inveja de Almodóvar. O sucesso do filme como tal é estrondoso e não se dá pelo mistério que o cerca. Na verdade, o longa é bastante óbvio. Mas o que fascina é a audácia de Almodóvar de trazer o enredo ao ponto máximo da individualidade. Assim como Saramago, em O ensaio sobre a cegueira, o cineasta espanhol detona com o ser humano, regredindo-o ao animal que é.
Saí do cinema em estado de êxtase. Para ser sincera, é o segundo filme dele que eu gosto. O primeiro foi Volver, uma história apaixonante e muito verdadeira em diversos aspectos. Porém, A pele que habito superou seus outros trabalhos. Misturando elementos da psicologia e do cinema, indo desde a ficção científica até o universo particular da homossexualidade. Almodóvar mostrou que é capaz, não só de fazer bons filmes, como também de ler aquilo que se passa na mente do espectador.
O estado de vigília no escuro da sala é inevitável. Somos transportados para El cigarral (local onde se passa o enredo) e obrigados a pensar como Robert (Antonio Banderas), protagonista. O conflito ético nos banha da mesma maneira que ao personagem. Aos poucos, a história vai se encaixando e as diferentes reações do público, aparecendo. Muitas pessoas, atordoadas com a petulância do filme, deixaram o cinema indignadas antes do gran finale. Outras permaneceram interessadas.
Antonio Bandeiras também não deixa a desejar. É o legítimo médico-monstro, sempre brigando com suas duas personalidades. E, meus deus, como Vera (Elena Anaya) se parece com Vicente (Jan Cornet). Fiquei convencida que eram a mesma pessoa. Uma obra prima do cinema, como não se via há tempos. Carregada na simbologia e nas mensagens entrelinhas. Enfim, é um filme para ver e pensar.


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