E os sonhos se foram junto com o dinheiro.
Marina não se importou, nunca gostou de sonhar. Não achava seguro, muito menos
prudente. O aperto no peito não era de aflição, mas de liberdade. As notas
voavam de encontro ao rio enquanto Marina observava em contentamento do alto da
ponte. Os cabelos envolviam seu rosto em suaves rajadas de vento.
Cansada, ela se debruçou no parapeito da
ponte e ficou a olhar as notas como se fossem peixes. Fechou os olhos e
imaginou como seria bom nadar, ou, melhor ainda, ser um barquinho. Navegando em
meio às lágrimas da desilusão. Não, não era liberdade. Marina nunca poderia se
libertar de si mesma e ser um barco. Por isso ela não gostava de sonhar.
“Sonhos são impossíveis”, repetiu em voz alta para si mesma.
Quis gritar, no entanto não teve forças e
apenas abriu a boca num ato mudo. O sol se punha do outro lado, fazendo com que
as sombras multiplicassem as notas no rio. Aos poucos a correnteza foi levando
aquela imensidão verde e a possibilidade de arrependimento de Marina. “O que
está feito, está feito”, pensou.
Quando as sombras se tornaram permanentes,
Marina levantou, deu meia volta e desceu a ponte vagarosamente. Sem saber ao
certo para onde ir, seguiu pela margem, como se procurasse seus peixes
imaginários, agora já mortos no fundo do rio.
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